sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

O Mundo se Despedaça



Sinopse: Um dos livros mais importantes da literatura africana do século XX, O mundo se despedaça conta a história do guerreiro Okonkwo, da etnia ibo, estabelecida no sudeste da Nigéria. Okonkwo, um dos principais opositores dos missionários brancos, precisa encarar a desintegração da vida tribal e de tudo o que conhecia até então.

Publicado originalmente em 1958, dois anos antes da independência da Nigéria, o romance de estreia de Chinua Achebe foi traduzido para mais de quarenta idiomas e consolidou o autor como um dos mais notáveis de sua geração.

Em seu primeiro livro, o autor Chinua Achebe descreve uma cultura que conhece bem, pois a sua família pertence à etnia Igbo, que na África é um dos maiores – e mais tradicionais – grupos étnicos. Além disso, Achebe é considerado o pai da literatura nigeriana, justamente por resgatar a visão das tribos em um mundo acostumado a ler a visão dos colonizadores.

O livro de outubro da TAG Curadoria tem como curador o escritor Alberto Mussa e é dividido em três partes, nos treze primeiros capítulos o leitor vive a rotina do personagem principal chamado Okonkwo em sua aldeia paterna, local onde ele vive com suas três esposas.

Qualquer pessoa que conhecesse a luta implacável que travara contra a miséria e o infortúnio não poderia dizer que ele apenas tivera sorte.

Okonkwo é um guerreiro e um trabalhador, reconhecido pela sua aldeia, mas também é machista e truculento. Um homem atormentado pela imagem do pai, a quem considerava um fraco.

Enfim, um ser humano como outro qualquer, com suas qualidades e defeitos. E é através dele e de sua família que acompanhamos a cultura da aldeia Umuófia, seus rituais, festas, julgamentos e crença. E justamente neste momento o leitor mais sensível pode se chocar ao se deparar com recém-nascidos jogados na mata para morrer, ou com o destino do jovem Ikemefuna.

Os mais velhos e as eminências da aldeia sentaram-se em seus próprios tamboretes, levados até ali por seus filhos menores ou por seus escravos.

Mas Okonkwo comete um crime, que a tribo considera do tipo feminino, quando não há intenção de realiza-lo, sua sentença são sete anos fora do clã, e com isso ele e toda a família se mudam para a aldeia da família da sua mãe.

A parte 2 da história nos apresenta Mbanta, e aqui o leitor pode perceber as diferenças culturais de um clã para o outro, assim como a complexidade deste personagem tão rígido em seus conceitos, que parece não ter espaço nenhum para a gratidão.

E neste contexto entra o ótimo diálogo com o seu tio Uchendu, onde é realizado um paralelo da relação dos filhos com o pai e com a mãe, onde a figura feminina não parece ter um papel tão desimportante quanto na primeira aldeia.

A vida de um homem, desde o nascimento até a morte, era uma série de ritos de transição que o aproximavam cada vez mais de seus antepassados.

Mas é quando um de seus filhos Nwoye, ao qual o personagem classifica como degenerado e efeminado, resolve se juntar a igreja dos recém-chegados ingleses que o leitor é preparado para chegar a terceira parte: a colonização da África.

Era verdade que eles andavam salvando os gêmeos atirados no mato; porém nunca os traziam à aldeia.

Inicialmente os clãs vivem sem problemas com o homem branco, ao destinar-lhe o lugar que consideram amaldiçoados, eles imaginam que logo ele se vá. Mas como bem sabemos, não é isto que acontece. O choque de cultura e valores é inevitável, e as consequências aqui são descritas pelo olhar dos que foram invadidos.

O mais interessante de O mundo se despedaça é que ele não julga ninguém, nem os clãs, nem os colonizadores. É como ler um documentário que te faz ficar imerso em uma cultura completamente diferente da que se conhece.

Para melhor aproveitamento é necessário exercer a empatia, pois estamos falando de outros hábitos, e não raro é fácil apontar o dedo e questionar os costumes de um lugar e época ao qual estamos muito longes de conhecer.

Um livro que eu realmente achei interessante, e recomendo para quem gosta de conhecer mundos diferentes. A narrativa em terceira pessoa é bastante fácil, e no caso da edição da TAG há um glossário no final.

Minha única sugestão é deixar a introdução do Alberto da Costa e Silva para depois da leitura, ela me pareceu mais clara após finalizar a história. E para quem quiser saber mais sobre a literatura nigeriana, outro livro muito bom que ocorre já com os estrangeiros vivendo entre os povos em grandes cidades é o Alegrias da Maternidade.


O Mundo se despedaça
Things Fall Apart
Chinua Achebe
Tradução: Vera Queiroz da Costa e Silva
TAG Curadoria – Companhia das Letras
1958 – 236 páginas

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