Sinopse: em 1791, em um beco escuro de Londres, se esconde um pequeno boticário, onde Nella aguarda sua próxima cliente. Uma curandeira respeitada no passado, ela agora usa seu conhecimento para um propósito mais obscuro: vender venenos disfarçados para mulheres desesperadas que fariam de tudo para se libertar dos homens em suas vidas. Mas quando sua nova cliente acaba por ser uma adorável menina de doze anos, Eliza Fanning, e uma amizade surge entre elas, o mundo de Nella muda por completo, e as mulheres cujos nomes estão escritos em seus registros correm risco de ser expostas. Na Londres atual, a vida de Caroline Parcewell parece estar desmoronando. Em uma viagem de aniversário de casamento, agora feita sozinha, sua história parece tomar um rumo há muito tempo escondido. Porém, em um beco sem saída pode estar o recomeço de que ela tanto precisa.
No mês de maio recebi pela minha assinatura da TAG Inéditos o livro A Pequena Loja de Venenos, da escritora norte-americana Sarah Penner. O mimo foi o mesmo de Casas Vazias enviado pela TAG Curadoria, o acesso a Mubi - que eu não utilizei - e a pipoca de caramelo e flor de sal da Mais Pura que eu devorei.
A história
O ponto de partida ocorre na Londres de 1791, onde Nella sente uma preocupação sem explicação à espera da sua desconhecida cliente. Surpreendentemente que aparece é uma menina de doze anos a serviço de sua senhora. Eliza gosta de um bom papo, e o local logo se torna objeto de sua curiosidade. E por mais que Nella a mande embora, a menina não se cansa de voltar.
Nella é filha de uma boticária que sempre fez tudo para ajudar as mulheres, ao assumir o negócio da mãe, ela acaba, após uma grande desilusão, incluindo um serviço especial para suas clientes, possibilitando através de elementos naturais se livrar de companheiros nada agradáveis.
Ela viria ao alvorecer - a mulher cujas cartas eu segurava nas mãos, a mulher cujo nome eu ainda não sabia.
Mas um pedido que vai contra as regras, seguido de ameaças e uma desatenção acaba colocando todas em perigo, e nesta tentativa de sobreviver ao caos um dos vidros com a marca da loja vai parar no Rio Tâmisa.
Ele será encontrado nos dias atuais por Caroline, uma mulher que abandonou vários sonhos para se dedicar ao marido e ao projeto de formar uma família. Na véspera de sua viagem para comemorar as bodas de zinco ela descobre uma traição, e para não desperdiçar o presente dado pelos seus pais, encara uma viagem solitária dos Estados Unidos para a Inglaterra.
Meu caderno estava lá dentro, as páginas cobertas de tinta de caneta azul e corações desenhados com um esboço do nosso itinerário de dez dias.
Buscando o que fazer, acaba recebendo o inusitado convite de participar de uma caça ao tesouro no Rio Tâmisa. O que era um passatempo, acaba se tornando o objetivo da viagem quando ela encontra o frasco azulado com um símbolo de urso. E ao mesmo tempo que ela tenta desvendar a história do objeto, ela acaba confrontando as próprias escolhas e tendo uma oportunidade de escolher o que ela Caroline deseja realmente para a sua própria vida.
A escrita de Sarah Penner
Dois tempos, duas narradoras que dividem os seus pensamentos na primeira pessoa, a mesma cidade. Esta é a base da história da autora Sarah Penner, que com uma escrita fluída e uma história envolvente, tornam o leitor uma segunda Eliza, querendo saber mais sobre as duas mulheres que estão sendo desvendadas.
Utilizando o universo feminino, está a sonoridade, a questão vida profissional x vida social, a maternidade, os relacionamentos tóxicos, o que são escolhas das personagens e o que é manipulação de terceiros.
Como eram tolos - todos eles, exceto as mulheres, a quem era dito onde encontrar suas amigas, suas irmãs, suas mães.
Para quem gosta de viajar dentro e fora dos livros, a autora também nos apresenta uma visão menos turística de Londres, com descrições que me fizeram sentir caminhando junto com a personagem.
Também é muito interessante as descrições dos elementos utilizados para a criação de cada veneno, assim como a descrição detalhadas no final, um acréscimo pós história.
O que eu achei...
Não existe veneno mais poderoso que uma traição, ela corrói, amarga, desestabiliza o traído. E isto é muito forte em A Pequena Loja de Venenos. As consequências que isso pode trazer na vida de cada uma das personagens.
Eu gostei muito da história, o vai e volta entre presente e passado, que fazem o leitor preencher o quebra-cabeça mais rápido que Caroline, ao mesmo tempo que se vive um dilema ético ao torcer por Nella. Me fisgando da primeira à última página.
Eu soube, ali, que não podia confiar em mais nada que ele me dissesse.
A leitura é uma imersão nas dores e dúvidas femininas, aos quais curiosamente não mudaram tanto assim, apesar dos mais de duzentos anos que separam uma época da outra. Quase como um lembrete do quanto ainda precisamos quebrar barreiras, sejam elas externas e internas.
Minha personagem favorita aqui foi a jovem Eliza e sua grande dose de otimismo. Por estar recém descobrindo a vida, ao qual ela tem muita curiosidade, permitem que ela sempre pense em soluções e acredite fielmente que elas darão certo. Contrastando com Nella, sempre tão triste e negativa.
O trabalho da minha mãe tornou-se o meu, e nossas tinturas eram tudo o que eu conhecia do mundo.
Também gostei da capa, existe uma mistura de delicadeza e força que convidam a entrar na história. E assim deixo a dica para quem quiser se aventurar a conhecer os diferentes tipos de veneno que podem atingir o corpo ou a alma.
A Pequena Loja de Venenos
The Lost Apothecary
Sarah Penner
Tradução Isabella Pacheco
TAG Inéditos - Harper Collins
2020 - 318 páginas
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Divagando com Spoiler
Esta parte aqui é para quem já leu o livro e quer saber um pouco mais da opinião de quem já finalizou a leitura. Então se você não gosta de saber nenhum detalhe a mais, não siga a leitura. Caso contrário, fique à vontade para descobrir quais foram os ecos que a leitura me deixou após eu fechar a última página.
Achei interessante como a distância do tempo não muda os problemas. A traição, ou melhor, o ser traída, é o que inicia o movimento das três personagens, com diferentes níveis de gravidade.
No passado Nella é traída duplamente por seu amor, ato agravado com a perda da filha, e a faz acrescentar o serviço especial em sua loja. Aliás, achei interessante o padrão ético de Nella, que só aceita envenenar homens e em nenhum momento se vê como sendo uma assassina em série.
Agora aquilo seria um sonho; por causa do meu erro, talvez eu tenha condenado a ela e a todos nós dentro das páginas do livro de registros.
Suas clientes são mulheres que buscam se livrar de homens que as fazem infelizes de diferentes formas. E aí entra a personagem Eliza, que embora encaminhada pela patroa, na verdade também está buscando a própria libertação das mãos do patrão que começa a descobrir e tocar o seu corpo jovem.
Só que tudo vira de cabeça de baixo devido a uma série de traições, começando pela esposa que quer matar a amante e não o marido, até o frasco do veneno ser entregue para a polícia pela empregada que entrega a patroa.
A verdade dele permaneceria sendo o único segredo que eu não dividiria com ninguém.
E aí pulamos para o presente onde encontrei Caroline, uma mulher que se deixou manipular pelo marido até ser apenas uma sombra do que sonhou um dia. E confesso que fiquei bastante agoniada quando ele resolve procurar por ela, e ao mesmo tempo que admite a culpa também transfere para ela. O respiro de alívio veio junto com o dela quando a menstruação chega e se vê que ela tem possibilidade de realmente recomeçar.
No geral é triste ver como as mulheres ainda se enterram por causa das atitudes masculinas. Como são consumidas por dentro, como é difícil não arrumar desculpas para os atos do outro, mesmo que isso a destrua. Mas são anos de criação machista que precisa ser quebrada também no universo feminino, tanto na literatura quanto na vida real.
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