Sinopse: Valentine desapareceu. Filha de uma família abastada porém disfuncional, ela some no caminho da escola e deixa todos desesperados. A jovem detetive Lucie Toledo é contratada para encontrar a adolescente, e pede ajuda a sua amiga mais experiente do ramo, a Hiena. Juntas, as duas começaram um périplo vertiginoso. A busca as leva de Paris a Barcelona, em uma viagem na qual encontram um mosaico de personagens que tiveram algum contato com Valentine. Um submundo sombrio é descortinado, expondo os desejos e os medos da juventude de uma geração.
Em outubro/2022 recebi pela minha assinatura da TAG Curadoria o livro da escritora francesa Virgine Despentes Apocalipse Bebê, uma indicação da escritora Scholastique Mukasonga. O mimo foi um pacotinho de café, acho que para aguentar o tédio do que eu considero um dos piores livros enviados pelo clube desde que comecei assinar em 2017.
Lucie trabalha em uma agência de detetives em Paris, sua missão é seguir a adolescente Valentine, uma menina de quinze anos filha de pais separados, que agride a madrasta e se relaciona com qualquer menino que se depara. Mas um dia Lucie se distrai, e agora no lugar de seguir Valentine ela precisa encontrar a menina.
Não faz muito tempo, eu ainda tinha trinta anos. Tudo podia acontecer.
É um dono de um bar que apresenta Lucie a Hiena, uma detetive particular conhecida no meio, que aceita o caso apesar da baixa remuneração oferecida pela avó da adolescente.
Assim começam as conversas com parentes próximos e conhecidos, o que leva a dupla até Barcelona, em busca da mãe que abandonou a menina muito cedo e não manteve contato com a filha.
A diferença entre os verdadeiros durões e aqueles que optam pela redenção: uns têm escolha, outros não.
Enquanto em paralelo Lucie que até então se declarava heterossexual vai conhecendo os detalhes do mundo lésbico da Hiena e encontrando o amor.
A escrita de Virgine Despentes
O uso de primeira ou terceira pessoa vai conforme a personagem escolhida como central no capítulo, que com exceção de Lucie, já são identificadas no nome do mesmo.
No caso da narrativa em primeira pessoa, quem assume a voz é Lucie, que aparece em vários capítulos e é uma das protagonistas da história, sua visão distraída dos acontecimentos é dividida com o leitor.
Me interessam mais o estado das baterias do meu material e os arranhões na lente do que a pessoa que estou seguindo.
Quando muda para os capítulos únicos, a visão passa a ser em uma terceira opinativa, que faz um breve resumo do que as personagens viveram até chegar ao momento do desaparecimento de Valentine, assim como quais são os seus sentimentos em relação a menina, que desperta os diferentes tipos de reações entre as pessoas que a conheceram.
Despentes usa uma linguagem mais debochada, ácida, recheada de clichês e termos grosseiros, que usados a exaustão perdem força e se tornam palavras comuns no texto. E o que parece ser escrito para chocar, acaba dependendo muito do perfil do leitor, que pode achar muito louco e de uma verdade nua e crua, até uma história entediante que parece não ir para lugar nenhum.
Eu me abstenho de contar que também cresci com uma madrasta, o que me faz ter simpatia por qualquer pirralha que espanque a sua.
Mas ao contrário do que se imagina na sinopse, o livro de Despentes não é um suspense onde as duas detetives, junto com o leitor, montam um quebra-cabeça. Pelo contrário, com o andar da leitura ele se mostra mais uma crítica ao estilo de vida dos ricos franceses e a cidade de Barcelona, ao mesmo tempo que aborda a descoberta do homossexualismo pela detetive Lucie.
Sendo muito mais um livro sobre a personalidade das pessoas do que sobre o mistério de um desaparecimento. Sobre pré-julgamentos e preconceitos. Não podendo deixar de fora as escolhas que cada um faz sobre como viver a sua vida, concessões, ônus e bônus.
O que eu achei de Apocalipse Bebê
Uma ideia de base ótima, uma execução que deixa a desejar, com um capítulo final ótimo que poderia até mesmo ser um conto. Assim eu resumiria Apocalipse Bebê, um livro em que é possível pular tranquilamente todos os capítulos do meio que não irá se perder nada, já que o forte da trama está nos capítulos iniciais e finais, onde outros personagens, que não as duas detetives, entram na história. E o final sim, é muito bom, mas ao mesmo tempo acentua todas as falhas da narrativa conforme o perfil do leitor.
O livro foi comparado com Todos nós adorávamos caubóis - já resenhado por aqui - pelo fato de também serem duas mulheres lésbicas viajando, no caso do livro brasileiro pelo interior gaúcho, no caso do francês entre Paris e Barcelona. Eu colocaria a semelhança pelo fato de as personagens dos dois livros serem péssimas companheiras de viagem, pois como reclamam, é muita amargura ao passar por locais maravilhosos.
Todos que são honestos, ou que têm honra, ou que são gentis, foram exterminados.
Por outro lado, faltou desenvolvimento em relação a personagem Valentine. Suas motivações não são bem trabalhadas, apesar de ser a personagem com maior carga para se aprofundar. Já que definitivamente a conhecida frase pobre menina rica não se aplica como justificativa suficiente para suas ações.
Ao contrário do que ocorre com Lucie e a Hiena as duas personagens cujos os umbigos recebem o foco total da história, pois tanto as ações quanto os diálogos são fracos.
Nunca durma com alguém que está abaixo de você, essa é a condição primeira do respeito à sua feminilidade.
Eu particularmente achei o livro chato, apesar de ter uma boa base de início, não me incentivando a ler aquela página a mais, ficando quatro dias de um feriadão parado em um cantinho. E no retorno comecei a aplicar a boa leitura dinâmica nos capítulos que não acrescentavam em nada a história.
Mas como eu sempre digo, gosto literário cada um tem o seu, então como sempre ocorre, independente de eu ter literaturado a história, deixo a dica para quem curte livros com protagonistas LGBTQIA+, para quem gosta de livros envolvendo estrada, para quem quer uma outra visão de Paris e Barcelona, ou para quem ficou curioso com tudo o que eu escrevi.
Apocalipse Bebê
Apocalypse Bébé
Virgine Despentes
Tradução: Natalia Borges Polesso
TAG - Companhia das Letras
2010 - 319 páginas
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Assinatura integralmente paga pelo autora da resenha.
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