Sinopse: Em junho de 1954, Emmett Watson, um jovem de dezoito anos, é levado para casa, em Nebraska, Estados Unidos, pelo tutor da instituição juvenil onde ficou internado por quinze meses após ter cometido um homicídio culposo. Sem a mãe, que foi embora de sua vida anos antes, o pai, que morreu recentemente, e a propriedade da família, tomada pelo banco, Emmett só quer pegar o irmão mais novo, Billy, e partir para a Califórnia, onde poderão começar uma nova vida. Mas quando o tutor Williams vai embora, Emmett se depara com dois amigos da instituição ― o astuto e carismático Duchess e o zeloso e nada convencional Woolly ―, que fugiram escondidos no porta-malas do carro que o trouxera. Agora, juntos, os quatro pegarão a estrada e terão que conciliar os diferentes planos para o futuro ― um dos quais os levará a uma fatídica jornada a Nova York, direção oposta ao destino final de Emmett.
No mês de junho/2022 recebi pela minha assinatura do Clube intrínsecos o livro A Estrada Lincoln do escritor norte-americano Amor Towles. O mimo foi um jogo americano com o nome do restaurante favorito de um dos personagens.
Emmett é um rapaz tranquilo, que quando provocado inúmeras vezes deixa a razão ser ofuscada pela raiva. E é assim, em uma briga que ele acidentalmente mata outro rapaz na cidade onde mora. Motivo pelo qual é enviado para um reformatório no Kansas, onde conhece Duchess e Woolly.
Adquirira suas concepções nos livros e com a própria experiência, e dispunha de um amplo vocabulário para transformar em conselhos.
Quando sua pena é completada ele retorna para uma casa cuja hipoteca foi executada após a morte recente do seu pai. Restando apenas o Studebaker Land Cruiser 1948, comprado por ele, um dinheiro escondido e a responsabilidade de cuidar de uma criança de oito anos.
Convencido por Billy, seu irmão caçula, a ir para a California recomeçar a vida, e quem sabe reencontrar a mãe que foi embora há muitos anos, mas deixou um rastro do seu caminho por cartões postais, o veículo se torna parte essencial do plano.
Entre todas as pessoas do mundo, ele não podia acreditar que éramos nós.
Até descobrirem que Duchess e Woolly fugiram do reformatório e estão ali na porta dos dois, querendo que Emmett mude a sua roda para que Woolly pegue a herança ao qual tem direito e possa dividir com todos. O que fará com que os quatro rapazes tenham os dez dias mais diferentes das suas vidas.
A escrita de Amor Towles
O livro é separado em dez partes, que representam a contagem regressiva de 10 dias corridos na vida dos quatro personagens principais, que dão nome aos capítulos.
A narrativa que nos coloca no dia-a-dia de Emmett, Billy e Woolly ocorre em terceira pessoa. Já de Duchess e Sally é utilizado em primeira pessoa. Não sendo abordado todas as visões todos os dias, muitas vezes sabemos o que está ocorrendo com os faltantes acompanhando a narrativa de outro deles, normalmente Emmett e Duchess, que são os personagens principais desta história.
Por mais de um ano, acordou com o som de uma corneta e a agitação de quarenta garotos às seis e quinze da manhã.
Como personagem coadjuvante temos Sally, a jovem vizinha de Emmett e Billy que muitas vezes atua como anjo da guarda dos irmãos, ao mesmo tempo que passa questionar a própria vida, questiona o machismo e começa a repensar quais caminhos deve tomar.
E há também narradores que fazem uma participação especial, como do Pastor John e Ulysses, homens que encontram os irmãos em um vagão de trem e vão atuar de forma distintas no destino dos dois. Assim como Abacus, o autor do livro que Billy carrega para cima e para baixo e que já foi lido diversas vezes.
Do ponto de vista de um homem, a única coisa necessária é que você se sente a seus pés e ouça o que ele tem a dizer, não importa quanto tempo ele demore a dizer ou quantas vezes já o tenha dito.
Explorando personagens ecléticas, o autor entrelaça entre as viagens de carro e de trem, dramas familiares, autodescobertas, influências de fatos de infância, sobrevivência, assim como o grande conflito de responsabilidade com curtir a vida, de certo e errado, de razão e emoção.
Tudo em uma escrita que mistura objetividade e sensibilidade, pois apesar dos pesares, não há lágrimas, e as reações são absurdamente humanas, dando verossimilhança a história.
O que eu achei de A Estrada Lincoln
Na minha opinião ao contrário do que o nome induz, não é exatamente uma Road trip, mas uma série de desventuras de três jovens rapazes e um menino, onde a maior parte das encrencas são originadas por Duchess.
Woolly é o personagem que me deu um nó na garganta. O leitor sabe desde cedo que há algo com ele, que toma medicações diárias, que é um rapaz rico colocado na instituição pela família após o mesmo ser expulso de todos os bons colégios. Da bonita relação com uma das irmãs que o acolhe apesar de todas as loucuras, do lugar de infância marcado na memória.
Por experiência própria, eu sabia que as melhores explicações lançam mão do inesperado.
Já Emmett é o rapaz que precisa virar adulto de um dia para o outro com a perda do pai, assumindo a educação e o sustento de Billy, que aos oito anos vê o irmão mais velho como um dos heróis do seu livro, e não se deixa ficar para trás quando Emmett precisa corrigir o percurso desorganizado por Duchess.
Motivo pelo qual muitas vezes pensei se não era Duchess o personagem principal da história. É ele quem convence Woolly a fugir do reformatório quando faltam poucos meses para serem liberados, para pegar a herança do rapaz.
Alguns prédios se pareciam tanto, que, quando se ia de uma cidade para a vizinha, a impressão que se tinha era a de que se estava no mesmo lugar.
Também é ele quem rouba o carro de Emmett com a mochila que tinha todo o dinheiro para o seu recomeço, fazendo com que os dois irmãos se exponham a riscos desnecessários atrás de seus bens.
Além de um rastro de violência, já que Duchess resolve aproveitar o carro do amigo para acertar contas passadas e rever antigos conhecidos. Gerando uma eterna dúvida do verdadeiro caráter do rapaz.
Mas, para a maioria das pessoas, o lugar onde residem não faz diferença. Quando se levantam de manhã, não têm a pretensão de mudar o mundo.
E tudo isso de certa forma quebrou a expectativa que o nome do livro - a estrada Lincoln cruza os Estados Unidos, indo de Nova York a São Francisco - havia gerado em mim, pois imaginava algo mais na estrada mesmo, do que uma busca pelo carro roubado na cidade de Nova York.
E até agora estou em dúvida se gostei ou não. Eu sei que não adorei, as vezes achei a narrativa arrastada, em outras tinha vontade de sacudir o Duchess, me encantei pelo Billy e pelo Woolly, então também não tenho como dizer que desgostei.
A maioria dos criadores de mapa são particularmente talentosos em encolher as coisas.
E o final... não, não vou revelar ele aqui, mas também não contribuiu para a minha decisão, na verdade só deixou mais minhocas na minha caixola.
Ficando a dica para quem gosta de narrativas longas - neste caso mais de quinhentas páginas -, curte voltar no tempo - a história ocorre em 1954 e pega o sentimento daquele intervalo entre as guerras da Coreia e do Vietnã -, e principalmente gosta de desventuras em série.
Apesar da juventude dos personagens não espere um romance jovem adulto, o que temos aqui está mais para romance de formação, cujos personagens podem captar toda a sua atenção.
A Estrada Lincoln
The Lincoln Highway
Amor Towles
Tradução: Regina Lyra
intrínseca
2021 - 576 páginas
Esta resenha não é patrocinada, a assinatura do clube citado - que foi encerrado em setembro - era pago integralmente pela autora.
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