terça-feira, 22 de novembro de 2022

A ilha das árvores perdidas



Sinopse: A história de Ada começa em um lugar que ela nunca conheceu: na ilha de Chipre, em 1974, quando dois jovens apaixonados se encontravam escondidos debaixo de uma figueira. A árvore, que testemunhou o amor do casal e a chegada da guerra que viria a desolar a ilha, foi levada para Londres, e dezesseis anos depois é a única ligação de Ada com a sua ancestralidade. A garota, então, embarcará em uma busca pela própria identidade, tecendo uma linha até o passado dos pais e revelando tudo o que se perdeu no tempo.

No mês de setembro/2022 recebi pela minha assinatura da TAG Curadoria a edição mais bonita do ano. Indicado pela jornalista Adriana Ferreira Silva, A ilha das árvores perdidas é uma linda obra da autora Elif Shafak. O mimo foi uma deliciosa caixinha de chá verde da Tea Shop.

Um grito que sai da alma e carrega saudade, raiva, incompreensão e solidão. Um grito longo, que não pode ser parado antes de chegar ao seu final em plena sala de aula, na véspera da parada dos feriados de natal e ano novo. Grito que sai de uma adolescente que desconhece o passado de seus pais, e não convive com nenhum familiar.

Mas as lendas existem para nos contar o que a história esqueceu.


Uma figueira que originalmente morava na ilha de Chipre, no meio de um bar, e agora se vê derrubada pelo mau tempo na Inglaterra e é cuidadosamente enterrada no pátio de uma casa, cujo amor pelo morador começa a crescer.

A chegada de uma tia que só pode visitar a sobrinha após a morte dos seus pais, cheia de superstições, tem o sonho de usar roupas coloridas, e faz comidas tão cheirosas que parecem ultrapassar o limite físico das páginas.

Era capaz de detectar a tristeza de outras pessoas da mesma forma que um animal era capaz de farejar outro de sua espécie a um quilômetro de distância.


Um homem que perdeu o amor da sua vida e agora tem dificuldade de se comunicar com a filha adolescente, ficando em uma espécie de bolha junto a suas plantas.

E duas histórias de amor que conseguem tocar o coração ao mesmo tempo que nos mostram como uma guerra é injusta com os inocentes e como suas marcas são eternas.

A guerra é uma coisa terrível. Todas as guerras. Mas as guerras civis talvez sejam as piores, quando velhos vizinhos se tornam novos inimigos.


A escrita de Elif Shafak

A delicadeza deste livro começa pela narrativa. Alternando entre primeira e terceira pessoa, temos a voz da Figueira, que a tudo assistiu e é a responsável por completar as informações que os humanos não veem ou não ouvem.

Em terceira pessoa acompanhamos o tempo presente de Ada, Kostas e Meryem, cada um, de sua maneira, tentando superar a perda de Defne, a mãe, esposa e irmã dos três personagens.

Histórias, talvez, mas eu acreditava nelas. Assim como acreditava em lendas e no fundo de verdade que tentavam transmitir. 


E também no tempo passado conhecemos a Ilha de Chipre onde os jovens Kostas, descendente de gregos, e Defne, descendente de Turcos, se apaixonam e vivem um romance proibido. Quem ajuda este casal são dos donos do bar Figueira Feliz, onde a narradora se originou, também com descendências diferentes, Yusuf e Yiorgos são figuras apaixonantes na história.

Neste vai e vem, a autora Elif Shafak compartilha não só o aspecto cultural desta ilha mediterrânea que fica entre três continentes e possui a única capital dividida no mundo: Nicósia, mas também todos os seus conflitos, citando inclusive acontecimentos de outras ditaduras, como as que ocorreram na América Latina.

Não é a minha intenção menosprezar outra planta, mas que chance tem uma maça sem graça diante de um delicioso figo que ainda hoje, era após o pecado original, tem sabor de paraíso perdido?


Conflitos que atingem não só os moradores humanos, mas também o meio ambiente da região, e assim temos a visão de plantas, animais e insetos sobre o que está ocorrendo na ilha, tudo pela narrativa da figueira.

União de fatos e narrativas que tornam o enredo extremamente delicado e sensível, o tipo de história que dá prazer em abrir o livro. 

Os seres humanos perdem o foco com facilidade. Imersos nas políticas e conflitos deles, eles se distraem, e é então que proliferam as doenças e começam as pandemias.


O que eu achei do livro A ilha das árvores perdidas

Eu adorei o livro. A escrita é bonita, me levando não só a vivenciar a história dos personagens humanos, como saber mais sobre árvores, animais e os conflitos de uma ilha ao qual eu conhecia só de nome.

Sim, há algumas questões não respondidas na sua totalidade, e outras cujas respostas foram dolorosas de se saber. Mas não achei que isto atrapalhou a narrativa, apenas deixou um gosto de quero mais.

À medida que envelhece, você passa a se importar cada vez menos com o que os outros pensam de você, e só então consegue ser mais livre.


Existe uma delicadeza no tratamento do afastamento do pai e da filha após a perda da figura de Defne, deixando claro como é difícil a superação de um luto quando ele é cercado de silêncio. Assim como a importância da tia, que traz leveza e histórias para casa, permitindo assim a reconstrução de laços.

Aliás, uma personagem que merecia ter mais da sua história contata era justamente a tia Meryem. Se houvessem desdobramentos deste livro, um com a visão dela seria fantástico, pois me permitiria saber mais da sua relação com as cores e as promessas difíceis de se atender.

Os humanos são muito estranhos, cheios de contradições. É como se precisassem odiar e excluir na mesma medida que precisam amar e acolher.


Gostei muito do recurso de vai e volta entre presente e passado, respondendo indiretamente e no momento certo não só as dúvidas de Ada, mas as minhas, como se estivesse completando um quebra-cabeça.

Assim como gostei da Figueira como narradora, e sim, é quase impossível eu olhar para uma árvore agora e vê-la com os mesmos olhos. Eu, que já gostava de abraça-las, agora vou querer bater longos papos.

Será que cada geração começava inevitavelmente onde a anterior havia desistido, absorvendo todas as decepções e sonhos não realizados?


E os figos... eu passei o livro inteiro com vontade de comê-los, principalmente uma entrada que a minha mãe já fez nas festas de final do ano que mistura figo, queijo brie e vodka.

Então é com saudades desta linda história que eu recomendo este livro que possui um toque de tristeza, mas também de esperança. De se reconectar com as próprias raízes e se ver vivendo momentaneamente em um lugar de conceitos e culturas tão diferentes da nossa, mas com sentimentos tão universais.

E não esqueça de quando chegar na página 293 fazer o teste de fazer a análise do seu caráter com base na primeira coisa que você repara ao olhar para uma árvore. Eu me dei conta que, no meu caso, depende do tamanho da árvore, ficando entre os galhos e o tronco.


A ilha das árvores perdidas
The Island of Missing Trees
Elif Shafak
Tradução: Marina Vargas
TAG - Harper Collins
2021 - 319

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