Os pais nos contaram sobre a primeira guerra e o feminismo, os filhos sobre a segunda guerra e o nazismo, e agora os netos nos falam de comunismos, muro, misseis e rock’n’roll.
O terceiro livro da trilogia O Século de Ken Follett encerra o laço com as famílias americana, alemã, russa, inglesa e galesa, alguma com mais destaques, outras com uma participação quase superficial.
Eternidade por um fio começa na família Franck, que mora na Alemanha Oriental e sempre possuiu fortes opiniões políticas. A filha mais velha do casal, Rebecca, é levada a acreditar que seu namorado Hans está apaixonado por ela e o pede em casamento, sem saber que ele na verdade é um espião da Stasi.
A descoberta leva a separação, e a uma perseguição da Stasi que levam Rebecca querer se mudar para o lado ocidental, exatamente no dia em que o muro de Berlin é construído. E são eles que irão contar sobre as formas de fugas dos alemães, através de Rebecca e seu irmão Walli, a separação das famílias que ficaram em lados opostos, o gerenciamento de empresas ocidentais por seus donos que ficaram presos no lado oriental, e as ações da Stasi.
Os Franck foram um dos meus preferidos, Rebecca carrega uma história bastante pesada desde o segundo volume Inverno do Mundo, Carla e Maud também já haviam ganhado há muito tempo a minha admiração. Para quem os adota, é impossível não sofrer junto com eles.
Outra família que gosto muito são dos Peshkov, que aqui estão na Rússia e nos Estados Unidos. Começamos pelos primeiros, os descendentes de Grigori Peshkov que tanto lutou pelo comunismo na Rússia. Sua neta Tanya é jornalista, oficialmente escreve as matérias permitidas pelo partido, em segredo, tenta expor a verdadeira realidade dos que vivem sobre domínio comunista. Seu irmão Dimka trabalha no Kremlin e acredita ser possível melhorar as coisas pela política, mas conforme os anos irão passar, ele irá descobrir que não é tão fácil assim.
São eles que irão mostrar o início de Fidel Castro e o caso dos mísseis russos em Cuba apontados para os Estados Unidos (em um dia que todos acharam que o mundo iria acabar), o empobrecimento de uma nação lutando por um regime em que para os de alto escalão as regras são diferentes, assim como a perseguição política e o destino de seus prisioneiros.
No lado americano, a família de Lev Peshkov é uma mistura de filhos legítimos e bastardos. O foco aqui está no neto George Jakes, um negro formado em direito tentando lutar pela igualdade, inicialmente pela tentativa de um protesto pacífico, posteriormente pela política.
É ele, juntamente com outras duas personagens Maria e Verena, que irá mostrar os grandes conflitos, ataques da ku klux klan, o preconceito camuflado, e grandes figuras da história como Martin Luther King e o clã Kennedy.
Aliás, Jakes juntamente com Maria podem fazer o leitor entender melhor as últimas eleições americanas, já que eles nos contam todas as estratégias políticas em eleições como de Nixon e Reagan.
A família Dewar, tão querida nos primeiros livros, tem sua representação pelo amargurado Cameron, que ira mostrar os bastidores não ortodoxos de Nixon e da Cia, e por Ursula sua irmã, que vive o mundo paz e amor.
Na Inglaterra, os netos de Eth nos mostram o lado artístico da época. Dave juntamente com Wallis montam uma banda de Rock’n’roll onde não pode faltar o sexo e as drogas. Já sua irmã Evie é uma atriz que não deixa de dar suas opiniões políticas, o que nem sempre será bom para ela.
Já a família Murray tem como representante de peso Jasper Murray, um jovem sem escrúpulos para buscar o sucesso na carreira como jornalista. É ele quem irá nos mostrar a guerra no Vietnã, os escândalos políticos e o outro lado da queda do comunismo. Sua irmã Anna tem uma participação pequena como editora de livros que tem entre os seus escritores um russo que conta através de suas histórias a realidade em seu país.
Racismo, homossexualismo, escândalos, mísseis, amor livre, guerra de interesses. De 1961 a 1989, esta ficção conta uma parte da nossa história, e talvez nos ajude a entender um pouco mais desta loucura que vivemos nos dias de hoje. Nada é novidade, tudo é um ciclo que se repete de tempos em tempos por muitos não mudarem sua linha de pensamento. Evoluímos na tecnologia, mas não estamos na mesma velocidade como seres humanos.
Não se deixe assustar pelo tamanho dos três livros, eles são ótimos, a narrativa de Ken Follet é deliciosa, o que acelera a leitura e o faz ficar com saudades rapidinho após fechar a última página.
As outras resenhas podem ser lidas nos links abaixo:
Eternidade por um Fio – Trilogia O século
Edge of Eternity
Ken Follet
Tradução Fernanda Abreu
Editora Arqueiro
2014 – 1071 páginas
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