Quando eu era pequenina no século passado eu perguntava para a minha mãe por que o meu nome não era Rita Lee de Carvalho? Na vida adulta, consegui assistir alguns shows da rainha do rock brasileiro, e quando minha mamãe noel me perguntou o que eu queria de natal pedi a sua autobiografia.
Rita conta sua história de forma rápida, o texto em nenhum momento é cansativo, eventualmente há um vai e vem no espaço. Se o livro começa divertido (embora tenha um episódio pesado logo de início), ele começa a ficar deprê conforme ela conta suas idas e vindas de internações ora derivadas de drogas, ora da bebida. Mas em nenhum momento o leitor irá às lágrimas. Mesmo quando a página é triste, ela não resiste em escrever uma gracinha. Fofa!
A cada página vemos uma cantora criativa, inteligente que hora se acha diva hora tem um complexo de inferioridade. Uma mulher-criança sem limites, o que a permitiu inovar ao mesmo tempo em que brincava com a própria mortalidade. Frágil perante as perdas, o tipo de pessoa que parece sempre precisar de colo.
E neste lado Roberto e os meninos passaram por momentos difíceis. Não sendo à toa a importância das mulheres de sua família na criação do trio. Além disso, Rita parece ter achado um tipo raro de homem, e sim, a história deles me fez acreditar em almas gêmeas.
Nos últimos anos de show, quando ela diz já estar no automático, lembrei-me do meu marido reclamando que eram sempre as mesmas músicas e conversas (para quem gostava do tremendão, Ritinha foi comparada ao Roberto Carlos neste caso).
O lado negativo do livro é o fato de ser autobiográfico. Como ocorreu com Sidney Sheldon, em alguns momentos parece que enxergamos apenas a ponta do iceberg, ali está à memória (que gosta de nos aplicar peças) e o quanto você realmente quer se entregar. Para o bem ou para o mal ali encontramos somente a visão dela. E cá entre nós, Rita era digna de uma biografia ao estilo do Paulo Coelho, por tudo o que ela viveu.
Santa Rita parou enquanto ainda estava no auge. Agora vovó do Rock tirou alguns de seus lenços, mas assim como as botas roubadas e os figurinos eternamente emprestados que hoje estão guardados, me parece que muita história ficou apenas nas músicas.
O livro é para se divertir com ela contando pequenas histórias, se apaixonar um pouco mais por sua língua afiada, e saber alguns detalhes que a tornaram ovelha negra da família. Nem mais, nem menos.
Rita Lee uma autobiografia
Rita Lee
Globo Livros
2016 - 294 páginas
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