quinta-feira, 7 de março de 2019

Alfabeto dos Ossos



Sinopse: O poeta Archie Lunan queria ser escritor de ficção científica. Por causa da vida desregrada e da personalidade polêmica, tudo o que conseguiu foi publicar um pequeno livro de poesias. Depois que se mudou para a remota ilha Lismore, na Escócia, as coisas nunca mais entraram nos eixos. Acabou desaparecendo no mar, sem deixar rastro, e sob fortes suspeitas de suicídio. Morreu sem ter seu talento reconhecido. Quando ainda era adolescente, Murray Watson se encantou pela obra de Archie e se tornou seu maior admirador. Hoje, porém, como professor universitário, sua carreira está tão conturbada e fadada ao insucesso quanto a do poeta. Sua única satisfação é pesquisar a fundo a história de seu autor preferido.

Na sua juventude Murray Watson encontra a única obra de Archi Lunan e se apaixona pela escrita do poeta que sonhava em ser escritor de ficção científica. Anos depois, como professor universitário, escolhe a biografia do escritor como a tese do seu doutorado para colocar o nome de Archi na história da literatura.

Conforme ele tenta pesquisar em bibliotecas ou entrar em contato com antigos conhecidos se depara com uma escuridão, onde nem a morte do escritor é clara, já que ele desapareceu no mar. O silêncio e as informações selecionadas não lhe fornecem nem uma base para começar, e nesta busca ele acaba tendo que enfrentar os seus próprios demônios.

Algumas totalmente escritas com uma letrinha miúda, como as cartas de um condenado para a família.

Identificado como um livro que mistura suspense e romance policial, inicialmente Louise Welsh me fez lembrar de um escritor dizendo que todo livro neste estilo precisa ter cenas de sexo. Só que este clichê nesta história em especifico acaba mais atrapalhando do que ajudando.

Aqui me refiro a um capítulo que poderia ser chave, mas acaba na superficialidade total: Murray vai até a casa da viúva do sociólogo Alan Garret que também estava pesquisando sobre Archi, mas não em relação a sua obra, mas o seu possível suicídio. Garret morre em um acidente de carro sem explicação na mesma ilha onde o poeta desaparece. Toda a pesquisa descrita poderia situar o leitor da base da obra, se não fossem as páginas de sedução forçada seguida de sexo com a viúva.

Como podia guardar tantas datas, aspectos e versos, e esquecer uma mulher bonita?

Somado a isto há toda a questão da relação familiar com o irmão mais novo e um trauma/culpa não resolvido em relação ao pai que não fica muito claro de início e se perde em meio a descrições superficiais, tornando a história um tanto desconexa em alguns momentos. E com isto o foco acaba mais nas discussões familiares e desilusão amorosa de Murray do que nas poucas pistas que vão surgindo no decorrer do livro.

Mas é quando Murray chega à ilha Lismore na Escócia, última moradia de Archi e atual de sua viúva que a minha ficha como leitora cai: não estamos falando de um romance policial e muito menos de suspense. É um livro sobre a psicologia humana, e um ciclo que envolve mentiras, vaidade e suicídio, onde ouso dizer principalmente o que leva ao último.

Era isso o que eles estavam fazendo, desafiando águas perigosas, e nenhum deles possuía um par de nadadeiras.

Neste momento o tédio abre uma brecha para a curiosidade, e entre conversas e descobertas observa-se a rivalidade acadêmica, onde um talento que foge do tradicional é colocado à sombra pelos seus colegas ao escolher o tumulo como altar. A mesma rivalidade se vê entre os professores da instituição onde Murray leciona, cujo troféu é representado por uma mulher.

A morte aqui tem dois papeis: a de desafiar e a de libertar dos fantasmas que perseguem os personagens, mesmo que para um caminho que se desconhece. E somente quando você a entende como personagem, a presença, mesmo que rápida, dos secundários começa a ter sentido. Abrindo assim para Murray e quem o acompanha a vida do próprio Archi.

Talvez pudesse abordar o assunto mencionando sua própria experiência em vasculhar os detritos que os mortos deixaram para trás.

Terminei este livro sem uma opinião definitiva. Quando estava no final, achei as páginas faltantes muito poucas para o leque que havia se aberto. E talvez seja isso o que me incomode no livro: quando a essência dele apareceu, já era o seu final, e ele possuía potencial para ser bem mais explorado.


Alfabeto dos Ossos
Naming the Bones
Louise Welsh
Tradução: Bruna Hartstein
Bertrand Brasil
2010 – 460 páginas

6 comentários:

  1. A história do livro envolve um mistério, suicídio, muitas vezes ficamos curiosos por algo que gostamos, e queremos ir fundo, é uma história que envolve o leitor, bjs.

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  2. Olá Querida, Tudo bem?
    Amei a resenha:)
    Não conheçia esse livro mas estou muito curiosa:)
    Muito Obrigada
    Bjs Karina

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  3. Amo livros assim, cheio de suspense profundo e obscuro. Me identifico com o professor Murray, quando gosto de algo pesquiso a fundo. Tá aí um livro que vai para a minha prateleira! Beijos

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  4. Oi, tudo bem? Não conhecia o livro mas achei a proposta incrível. Fiquei pensando em algum autor que talvez eu tivesse curiosidade de "investigar" a vida caso ele desaparecesse sem deixar rastros. Acredito que todo leitor que é fã tem esse desejo de se aproximar de seus autores favoritos concorda? Um abraço, Érika =^.^=

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    1. Oi, Érica.
      Sabe que tenho vontade e medo, pois as vezes a obra é muito melhor do que o ser que escreve, por mais estranho que isso pareça.
      Abraços

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  5. Gostei da capa misteriosa. Adoro suspense com policial, não conhecia a obra! Obrigada pela dica ;)

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