Sinopse: Adeus, Gana é ao mesmo tempo o retrato de uma a família marcada pela separação de seus caminhos e uma viagem pela importância que nossas origens têm na formação de nosso caráter.
Kweku Sai, renomado cirurgião formado nos Estados Unidos e autoexilado em Acra, capital de Gana, está morto.
A notícia da morte de Kweku chega aos mais diversos cantos do mundo, aproximando os laços quase perdidos de uma família que ele abandonara anos atrás.
Costurando com maestria uma narrativa entre diferentes tempos e lugares, Taiye Selasi fala de como certas verdades são capazes de curar as feridas mais escondidas, em um romance sobre o poder de transformação que há no amor incondicional.
No mês de janeiro a TAG Curadoria enviou aos seus associados à indicação do escritor José Eduardo Agualusa: o livro de estreia da escritora Taiye Selasi, ainda inédito no Brasil. Para auxiliar o leitor logo no início uma lista de palavras com pronúncia, significado e origem – que se dividem entre Gana e Nigéria – e a árvore genealógica da família, para auxiliar nos momentos em que não se sabe mais de quem está se falando.
Em um domingo, antes do amanhecer, Kweku morre descalço.
Dividido em três partes: Partido, Partida e Partir, como é informado na sinopse, tudo começa com uma morte. E está é a primeira frase do livro. Inicialmente simples, mas cujo significado só é entendido no virar das páginas.
Para eles, não dar nomes era lógico, até admirável, um jeito de manter distância da existência assim como da morte.
Kweku nasceu na parte pobre de Gana, com esforço foi para os Estados Unidos e se tornou um reconhecido cirurgião. Casado com Folasadé, é pai de quatro filhos. Como todo imigrante, busca o seu american life, até o dia em que uma patrona da pesquisa científica, e doadora do hospital onde ele trabalhava, chega com um apêndice estourado e já sem chance de sobrevivência. A família exige a cabeça do responsável, e a de Kweku é entregue. Ele luta tentando ser readmito, mas ao se ver totalmente sem chances, não aguenta a pressão e foge de todos, deixando a família sem patriarca e sem dinheiro.
Esses pensamentos viriam depois – e por muitos anos depois, quando ele tentaria esquecer-se do fedor úmido da morte fresca.
Sozinha com os filhos, quem não aguenta a pressão é Folasadé, que acaba separando os filhos pensando na questão financeira e educacional, mas com consequências que irão deixar marcas para sempre em cada um.
Porque a mãe sempre tem que ser superior.
Adeus, Gana mistura em sua história várias situações, do racismo, dos complexos físicos como peso e cabelo, da vergonha, dos traumas, do silêncio entre os que deviam ser próximos, perdas, solidão, heróis, decepção, pressão e falta de amor.
Um médico que fracassou em prevenir a própria morte.
Pois ao contrário do que firma a sinopse, o que parece faltar nesta família que já era desestruturada quando todos moravam juntos, é justamente o amor condicional. Dilemas pessoais sempre imperam nas decisões, com o individual se sobrepondo ao conjunto. No que acabam sendo ciclos que se repetem a cada geração.
Ela estava brincando de sexo, mas não sabia nada de amor.
Mas isso não desabona a história, pelo contrário, o livro é tenso, triste e questionador. E mais do que um livro sobre uma família africana, ele é um livro sobre seres humanos e questões mais do que globais. E justamente por cada personagem carregar alguma situação tão típica dos últimos tempos, fica difícil não se enxergar em alguns casos.
A insularidade peculiar dos banheiros, um conforto.
Narrado em terceira pessoa, a história é como uma cebola, conforme você via removendo as camadas, cada personagem vai revelando o passado, como que preparando a todos – onde incluo o leitor – para o momento presente.
O único motivo para um relacionamento é interpretar, em miniatura, todo o drama da vida e da morte.
O livro não é de leitura fácil, justamente por sua carga emocional e também pela sua forma de escrita. Utilizando do recurso do discurso indireto, o leitor precisa ter uma atenção extra para não se perder entre o que diz o narrador ou um pensamento do personagem do momento ou diálogos que surgem.
E um fator que prejudica ainda mais a leitura na nossa versão portuguesa é a falta de uma revisão e tradução cuidadosa. E isso sim foi um verdadeiro pecado com esta edição. Da sensação em alguns momentos de terem colocado o original no Google Translate a palavras digitadas como o “depoi\” da página 304 da minha edição, fazem o coração do leitor mais sensível doer.
Indico o livro? Sim. Mas para ler em português se faz necessário uma edição com revisão aprimorada, Adeus, Gana e o leitor merecem.
Adeus, Gana
Gana Must Go
Taiye Selasi
TAG Curadoria – Editora Planeta
2013 – 367 páginas
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