quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Uma escada para o céu

 


Sinopse: Uma carreira na literatura é o desejo mais ardente do jovem Maurice Swift. Com belos olhos e uma facilidade para circular em meio aos influentes e talentosos, ele parece ter o pacote completo para chegar lá... não fosse sua notável falta de talento. Utilizando-se da sua beleza e total falta de escrúpulos, Maurice vai enganar e magoar quem precisar em busca do seu sonho.

Utilizando um provérbio de origem desconhecida que diz "Ambição é colocar uma escada para o céu" para nomear o seu romance, John Boyne coloca o mundo editorial, seus escritores, o ato de escrever, as publicações e os cursos de escrita criativa em um livro vira página que me prendeu do início ao fim.

Ocorreu-me a ideia descabida de que ele se sentira fisicamente atraído por mim, muito embora soubesse que se tratava de um pensamento absurdo.

A história começa em Berlim Ocidental no ano de 1988, quando o escritor e professores alemão Erich Ackermann encontra-se divulgando o seu livro que acaba de ganhar o prêmio The Prize e está sendo traduzido para diferentes idiomas. Em um bar de hotel, aprendendo a lidar com o desconforto de retornar para casa, ele se encanta por um dos garçons.

O rapaz bonito que o aborda na saída do local se chama Maurice Swift e sonha em ser escritor. Entrega um manuscrito para Erich, que observa que ele sabe utilizar as palavras, mas suas histórias são tediosas, faltando alma no que se propõe. Mas o charme do rapaz o impede de falar diretamente. Apaixonado, ele contrata o rapaz a circular com ele pela Europa e América do Norte com a justificativa de lhe dar dicas.

Que bom que posso aprender com você. Espero que saiba o quanto estou agradecido.

Em cada cidade, o escritor acaba contando um fato muito marcante do seu passado, ao mesmo tempo que apresenta diferentes pessoas do mundo literário ao rapaz. O resultado é o sucesso de um e a desgraça do outro.

Na parte dois o leitor é levado para Norwich no ano de 2000, onde Maurice Swift está casado com a escritora revelação Edith. Além de estar escrevendo um novo romance, ela é convidada para dar aula em um curso de escrita criativa.

Vi a chama refletida nas suas íris e seus olhos pareciam tão úmidos que cheguei a pensar que você ia derramar uma lágrima.

Sem conseguir gerar o filho que tanto Maurice deseja, ela segue acreditando no amor que um tem pelo outro. Mesmo quando vê o marido ter ciúmes de jovens escritores e agir até mesmo com violência com ela. A confiança no marido faz com que ela cometa alguns erros e como Erich pague um preço alto demais por se envolver com um homem como Maurice.

Na terceira parte é o próprio Maurice que nos fala, é o momento de ter o seu lado dos fatos, enquanto circulamos por diferentes pubs em Londres. Um homem sórdido, frio, sem limites para escalar a sua escada rumo ao que ele considera merecer. Uma pessoa que não gera o mínimo de empatia, como todo anti-herói. Mas que tem beleza e charme para atrair e manipular suas vítimas, sem que elas se deem conta do seu real objetivo.

Eu pensei muito antes de lhe revelar aquilo, mas acabei achando melhor contar.

Uma escada para o céu possui narrativa em primeira pessoa, achei muito interessante Boyne apresentar inicialmente a visão de outros personagens sobre Maurice, para somente depois nos colocar dentro da sua mente. Nos dando uma visão completa dos fatos, não havendo dúvida nenhuma da índole do pseudo-escritor.

Outros motivos para ler o livro é a viagem que fazemos através dele, seja de cidades (Berlim, Copenhague, Roma, Madrid, Paris, Amsterdam, Nova York e Londres), seja pela literatura, onde há muitas referências de livros, assim como a mistura de escritores fictícios e os reais, como Gore Vidal.

Podia ser embaraçoso fazer semelhante confissão, mas simplesmente não havia como contornar os fatos.

Envolvente e surpreendente, foi um livro que eu devorei rapidamente, onde a escrita fácil não evitava o choque, mas facilita a necessidade de saber mais.

Uma escada para o céu
A ladder to the sky
John Boyne
Tradução: Luiz A. de Araújo
TAG - Companhia das Letras
2018 - 333 páginas


Outros livros de John Boyne resenhados no blog:
O Garoto no Convés
O menino do pijama listrado


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