terça-feira, 10 de novembro de 2020

Eu Encontrei Jesus - Viagem às origens do Ocidente



Sinopse: Quem foi Jesus de Nazaré? Como surgiu a religião chamada cristianismo? Quem foram seus fundadores? Quem eram os primeiros cristãos? A história da Ressurreição de Jesus de Nazaré é verdadeira? Quem era São Paulo? Quem escreveu os Evangelhos? O que significa a expressão Filho de Deus? Os primeiros cristãos acreditavam que Jesus de Nazaré era Deus? Por que o cristianismo se espalhou tão rapidamente por todo o Império romano? A origem da democracia está na Grécia ou em Israel? Em linguagem direta e não raro contundente, mas sempre com base em pesquisas históricas, Eu encontrei Jesus enfrenta estas e outras perguntas. E as respostas a elas dadas são surpreendentes e não deixarão indiferente nenhum leitor.

A primeira coisa que preciso dizer é que este não é um livro religioso, ele inclusive vai além da religião.

A segunda, que conforme o Luís Augusto Fischer avisa na contracapa, não é um livro contra o cristianismo ou qualquer igreja cristã.

E a terceira e última é que se você é extremamente religioso e não aceita nada diferente do que é repassado pela sua igreja, este livro não é para você.


Os autores dos quatro Evangelhos são desconhecidos. Sua identificação nominal é fruto da tradição, que no caso de Marcos e Lucas possui pouca confiabilidade e no caso de Mateus e João nenhuma.


O livro do jornalista, professor e ensaísta José Hildebrando Dacanal está entre os livros da minha mãe que vieram morar na minha humilde biblioteca. Minha mãe é muito curiosa sobre o assunto, não sendo o único do estilo que está na lista para ler, mas com certeza é um dos mais bem fundamentados.

Dividido em três partes, o livro possui uma série de referências bibliográficas, pois trata da pesquisa realizada pelo autor para buscar respostas que não são nada fáceis. É o resultado do estudo de Dacanal sobre um período, e o que temos vai além da figura de Jesus de Nazaré, mas de toda a questão política e religiosa da época. Motivo pelo qual ele separa as fontes estudadas em internas e externas, e classifica quanto a riqueza de conteúdo, confiabilidade, discordantes, conflitantes, entre outros critérios.


O aldeão galileu Jesus de Nazaré não foi o fundador do cristianismo e este não foi obra sua, mas, no início, de intelectuais de origem urbana e formação gregas e, posteriormente, de intelectuais gregos adeptos do monoteísmo e da ética israelita.


Como não poderia deixar de ser, a primeira parte trata da personagem Jesus de Nazaré. Logo na origem é indicado que o seu nascimento ocorreu entre 7 a.c. e 4a.c, em uma aldeia no centro-sul da Galileia. O uso de Belém nos evangelhos seria a associação de Jesus como descendente do Rei Davi. O primogênito de Maria teria pelos mais quatro irmãos e duas irmãs, e em relação a sua paternidade, além da versão da divindade, são levantadas questões como filho ilegítimo, adulterino, fruto de estupro de um soldado romano ou simplesmente filho de José, o marido de Maria.

Ele também analisa itens como os títulos atribuídos, como o termo cristo que significa Rei de Israel, e que Filho de Deus era um termo utilizado para designar monarcas quando estes assumiam o trono como reis. Assim como as teses em relação ao seu grau de instrução, em uma época em que muito poucos eram alfabetizados, e estado civil, cuja ligação ao judaísmo tardio tinha a prática do celibato.


Ao contrário do que muitos afirmam, o cristianismo primitivo não é o cristianismo dos gentios.


Na comparação destes documentos, a dedução levada ao autor é que o Jesus, pregador itinerante, curandeiro e exorcista, apesar de ter uma linha diferente, como em relação a inclusão das mulheres entre seus seguidores, ele permaneceu sendo um israelita - um judeu - não foi o criador e não teria pretensão de fundar o cristianismo primitivo, que deu origem ao cristianismo como conhecemos hoje. Tendo a sua figura idealizada após a sua morte, e assim nascendo uma lenda que mudaria não só a religião israelita, como também a política do mundo.

E aí temos o link para a segunda parte, que trata justamente do Cristianismo Primitivo, que teria como ponto de partida da ressureição de Jesus, mudando o seu status de apenas mais um sentenciado a morte. Listando os fatos cronologicamente, ele descreve como ocorreu o crescimento dos seguidores, passando pelos conflitos internos em Jerusalém e a perseguição aos cristãos.


Em João alvorece uma nova religião, uma nova visão de mundo, uma nova ideologia.


Nesta parte também é abordada as viagens de Paulo de Tarso e suas cartas, os imperadores romanos até o momento em que o cristianismo deixa de ser uma religião para ter função ideológica.

Para concluir tudo, a terceira parte trata da Cristandade Ocidental, que vai da adoção da religião por Constantino a explicações dos três séculos levados para se romper com tudo o se acreditava até aquele momento. Também consta a influência dos gregos, lembrando que a origem da palavra Democracia possuía um sentido muito diferente do utilizado nos dias de hoje e o fato dos apologetas terem considerado Sócrates o primeiro mártir cristão, por morrer defendendo o direito ao espaço privado.


O Credo de Nicéia pode ser visto de três formas diferentes: como uma confissão de fé religiosa, como uma Constituição da Cristandade nascente e, finalmente, como uma cosmologia.


O livro é interessantíssimo, ao mesmo tempo que o autor tenta responder as suas perguntas, acaba trazendo novas para os leitores, já que o passado da humanidade é cheio de lendas e mistérios. Separar a ficção da realidade quando se trata de história é o que acaba separando também os curiosos dos que apenas creem.

Quem finaliza a leitura e deseja se aprofundar irá encontrar ao final do livro a biografia utilizada em todas as referências citadas ao longo dos capítulos, permitindo que assim esse parta em busca das próprias informações e tenha as suas deduções.


Milhares, possivelmente dezenas de milhares de obras foram escritas para tentar compreender e explicar a civilização israelita e a civilização helênica.


Durante a minha leitura acabei fazendo associações com outros livros, filmes e vivências dentro da igreja católica. Em um ritmo mais lento, muitas vezes me peguei criando um paralelo daqueles dias com os de hoje, principalmente quando é referenciado que o grupo de Jesus era formado pela classe média da época e o surgimento do cristianismo primitivo é relacionado com a insatisfação de pessoas que possuíam um maior conhecimento, mas não pertenciam aos círculos do poder.

Fechei o livro com as minhas próprias dúvidas e reflexões, e mesmo agora, passado duas semanas, as vezes me pego pensando no assunto abordado e me questionando o que haveria de real e o que haveria de ficção no livro mais lido do mundo.


Eu encontrei Jesus - Viagem às origens Ocidente
J.H. Dacanal
Leitura XXI- EST Edições
2004 - 351 páginas


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