Sinopse: No dia do aniversário de sete anos de Claire Limyè Lanmè, seu pai decide entregá-la para Gaëlle, a vendedora de tecidos da pequena Ville Rose, no Haiti, para que ela dê a menina uma vida melhor. Neste triste e delicado romance, Edwidge Danticat fala dos misteriosos laços que criamos com a natureza e com aqueles à nossa volta. Como num tecido, as vidas dos moradores do vilarejo se entrelaçam, e cada história revela algo da tragédia de todos eles, mas também seus momentos de força, resistência e esperança.
No mês que celebrou as afronarrativas a TAG Curadoria enviou para os seus assinantes uma recomendação do músico e escritor Kalaf Epalanga, que me apresentou a escritora haitiana Edwidge Danticat e o seu envolvente Clara da Luz do Mar. O mimo foi um livro de contos contemporâneos.
Quando Claire nasceu sua mãe morreu, sendo levada pela família materna e criada por ela até os três anos, quando a responsabilidade da sua criação foi devolvida para o seu pai, o pescador Nozias.
Mas, com uma menina, tinha tanta coisa que poderia dar errado, tantos erros incorrigíveis que ele poderia cometer.
Ele exerce o seu papel de forma amorosa, ao mesmo tempo que mantém a menina limpa, arrumada e frequentando a escola. Mas Nozias busca uma solução para ela ter um outro tipo de vida, e acaba concluindo que a melhor solução seria que Gaëlle, uma comerciante de tecidos, a adotasse.
Gaëlle já teve duas grandes perdas em sua vida, e embora na primeira vez tenha negado o pedido, aos poucos ela passa a pensar sobre a ideia enquanto se cura da trágica perda da própria filha.
A insistência dela em ficar tinha feito com que ele sentisse vergonha de sua falta de confortos, da pequenez e da natureza precária de seu mundo.
A boa escola frequentada por Claire tem relação ao fato da esposa de Nozias ter trabalhado na funerária do atual prefeito do vilarejo, que conseguiu uma bolsa na escola de Max Pai, um diretor que não aceita o uso da violência física como forma de educar.
Ele vive sozinho após Max Filho ir embora de forma rápida, não deixando maiores explicações para o seu amigo Bernard, um jovem morador da favela que sonha em ter o seu programa de rádio.
Personagens
Clara da Luz do Mar me apresentou personagens extremamente humanos o que me fez sentir diferentes sentimentos por eles no decorrer das páginas, conforme passado e presente foram se interligando, revelando fatos e personalidades.
Claire é o que chamamos de uma menina boazinha, inteligente sofre com a perda da mãe, o que torna a morte uma velha conhecida sua, já que a perda materna não é a única que ocorre exatamente no dia do seu aniversário. É o tipo de criança que dá vontade de colocar no colo e abraçar, para tentar aliviar um pouco a tristeza.
Mas, em outros dias, dias como hoje, ela sentia como se estivesse carregando um ninho de cobras na barriga.
Nozias claramente ama a filha, assim como amou a mãe que possuía o mesmo nome da menina. O que impede o leitor de julgar a decisão de se separar de Claire, pois fica claro o desejo dele que ela tenha as oportunidades que ele não teve.
Gaëlle também possui uma série de fatos pesados em sua vida, sendo a protagonista de um dos fatos inusitados da história ao mesmo tempo que transmite uma versão materna longe de ser açucarada. Foi uma das personagens que despertou diferentes sentimentos em mim, da empatia máxima até a incompreensão total por suas ações.
Não podemos avançar como bairro, como cidade nem como país a menos que saibamos o que faz esses homens chorar.
Já a dupla de Max’s simplesmente não conseguiram me despertar nenhuma simpatia, por trás de uma fumaça de bom cidadão estão os piores segredos, o que me fez sentir um certo asco dos dois. Não foi à toa que não consegui condenar as atitudes de Louise e Flore, que transformaram a retribuição dos atos dos dois em voz amplificada.
Falando em voz, se tem alguém que esmagou o meu coração foi Bernard, um jovem cheio de sonhos, com ótimas ideias, e se vê metido em um turbilhão ao ter uma delas roubadas.
A ampla audiência do programa preferia fofoca aos crimes reais, a menos que o crime contasse com elementos de fofoca.
A escrita de Edwidge Danticat
Como é citado na sinopse a vida de todos os personagens se ligam de alguma forma, o que eu achei muito interessante, pois a escrita de Edwidge Danticat passa a sensação de se estar assistindo uma novela, com reviravoltas, erros, mágoas e revanches.
Dividido em duas partes, Clara da Luz do Mar possui oito capítulos, onde o foco da história vai alternando de personagem, permitindo conhecer o passado de cada um e assim entender os motivos da sua situação atual. E cada final pode causar uma surpresa ou suspense do que irá ocorrer nas próximas páginas.
Porque meninos como ele se transformavam em homens que causavam angústia, homens que acreditavam ter liberdade para destruir e mutilar, e eles tinham que ser detidos.
A narrativa é em terceira pessoa, tendo um ritmo que faz ter vontade de ler mais uma página, depois mais um capítulo, atiçando a curiosidade para saber o que irá acontecer com os moradores de Ville Rose.
Na parte cultural, por narrar o cotidiano de uma pequena cidade do Haiti, temos frases e expressões em francês e crioulo - língua haitiana -, que dentro do contexto são facilmente compreensíveis. Além é claro dos costumes, descrição do local e as diferenças sociais.
Ela que o guiasse à vida adulta ileso numa sociedade onde as pessoas estão sempre buscando a próxima vítima a ser destruída.
O que eu achei...
Eu gostei muito do ritmo da escrita de Edwidge Danticat, a escrita fácil e fluída equilibra as situações, conseguindo dar uma dose de delicadeza mesmo em momentos que a narrativa se tornava mais pesada, revelando toda uma sensibilidade da escritora.
Um bom amigo estava agora perdido, alguém que ele tinha cumprimentado anos a fio quando se cruzavam, antes do nascer do sol, a caminho do mar.
Além de poder conhecer um pouco da literatura haitiana - ao qual nunca havia lido nada - da sociedade, crenças, costumes e políticas de uma pequena cidade do país ao qual só conheço de reportagens dos jornais.
Ficando a recomendação para quem gosta de livros envolventes, que despertam a curiosidade, cujo ritmo é ao mesmo tempo fluído e poético. Com certeza vocês não irão se arrepender.
Clara da Luz do Mar
Claire of the Sea Light
Edwidge Danticat
Tradução: Ana Ban
TAG - Todavia
2013 - 221 páginas
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Assinatura integralmente paga pelo autora da resenha.
É uma história gostosa de ler, apesar da Claire ter perdido a mãe ao nascer, é uma menina simples, simpática, gostei muito da história, anotado aqui a dica bjs.
ResponderExcluirOi
ResponderExcluirEu adorei a sugestão 🙂 gostei da capa, a história é maravilhosa
Oie, tudo bem? Ah, que proposta mais interessante da Tag. Fiquei com vontade de assinar novamente. Mas esse mês vou experimentar a Intrínsecos. Um abraço, Érika =^.^=
ResponderExcluirEu assino a intrínsecos também (se clicar na tag irá encontrar várias resenhas de livros deles). EU acho a proposta deles mais parecida com a linha da Inéditos da TAG.
ExcluirDica aceita e anotada, gosto de leituras assim, curiosa para ler esse livro!
ResponderExcluirEstou adorando as suas dicas de leitura, não conhecia a clara da luz do mar, mas quando vi que você achei o livro chato, fiquei triste kkkkkk gosto de livros direto ao ponto.
ResponderExcluirOlá, Nathalia.
ExcluirO livro não tem nada de chato, muito pelo contrário, além de ser muito fluído. O que te deixou com esta impressão?