terça-feira, 11 de janeiro de 2022

O Palácio de Papel


Sinopse: Em uma manhã perfeita das férias de verão, na propriedade construída em Cape Cod por seu avô, é com certo saudosismo que Elle Bishop absorve cada detalhe ao seu redor. A mesa de jantar da véspera — noite em que ela transou com o amigo de infância na escuridão do jardim enquanto os respectivos cônjuges conversavam na sala — ainda está posta. Em 24 horas, Elle terá de escolher entre esse homem e o marido. Mas, até chegarmos a esse momento crucial, acompanhamos outras fases de sua vida, desde a infância – sempre ao lado da irmã, Anna, dona de uma língua ferina: o divórcio dos pais e seus novos relacionamentos disfuncionais e abusivos; a chegada de Jonas, o menino curioso e mais novo que se transforma em seu melhor amigo e cúmplice; os tormentos da relação com o meio-irmão, Conrad; e o encontro dramático com Peter, o inglês charmoso e sarcástico que se tornará seu marido. Ao longo de um único dia, lembranças de acontecimentos da vida dos pais e avós de Elle expandem o mosaico dos segredos de família com episódios marcantes, trágicos e violentos.

No mês de novembro eu recebi pela minha assinatura da intrínsecos o livro da escritora americana Miranda Cowley Heller O Palácio de Papel. O mimo foram quatro bonitos descanso de copos que remetem a lugares da história.

Eleonor é uma mulher na casa dos 50 anos, com três filhos, casada com um homem que acredita amar, mas ainda apaixonada pelo amigo de infância. Todo este sentimento explode em um dia de verão em Cape Cod, onde os dois se conheceram muitos anos atrás e dividiram mais do que brincadeiras.

Ao ceder os impulsos, Elle revela ao leitor em um período de 24 horas o seu passado, os segredos, tristezas, alegrias e perdas de família. Mostrando ao leitor que não se trata de um simples adultério e muito menos de um romance água com açúcar o que ele irá encontrar.


Um livro de poesia mofado está aberto em cima da mesa.


Os personagens

Elle Bishop é a narradora desta história, e é sob o seu ponto de vista que enxergamos todos os demais personagens. É uma mulher que tenta equilibrar o amor pela família, suas culpas por eventos passados e as escolhas que realizou.

Filha de pais divorciados, ela e sua irmã Anna precisam viver com madrastas, padrastos e meios-irmãos. De temperamentos diferentes, Anna é energia pura, do tipo que não leva desaforo para casa, que mente na cara dura, e que é enviada para um colégio interno a fim de ter espaço na casa para um meio-irmão. Mas isso não separa as meninas, cujo amor é grande.


Pessoas impediam as outras de aproveitar o que elas mesmas não aproveitam.


Wallace é a mãe de Elle e Anna, uma mulher de pensamentos machistas que de certa forma segue os passos da própria mãe Nanette ao sempre favorecer os homens em situação de conflito, e mesmos nos momentos de exceção ela se sente quebrada ao entrar em confronto.

Henry é o pai ausente das meninas, que acabam tendo Leo, o segundo marido de Wallace, como a figura masculina de casa. Junto com ele elas precisam conviver com Conrad, o rapaz ressentido ao qual a mãe e a irmã abriram mão de conviver e o enviaram para o pai, o que obriga o afastamento de Anna para que ele ocupe o seu quarto e aproveite a situação para aterrorizar a então jovem Elle.


A maneira como chorava, com o tipo de amor por um animal de estimação que as pessoas mais cruéis muitas vezes têm.


Já na vida adulta, quem compõe o triângulo amoroso junto com Elle são Jonas e Peter. O primeiro é o amigo leal e apaixonado de infância, o menino mais novo que a segue por tudo e se torna um homem atraente. Os dois juntos guardam um segredo, e é justamente ao entender as circunstâncias que os afastaram que se compreende o motivo de ela finalmente ceder ao que ficou guardado a tanto tempo. E o marido Peter, o inglês pai de seus filhos que casou com ela mesmo com a desaprovação da família, é quem dá a Elle uma vida tranquila e aparentemente equilibrada, não fosse as mentiras que ela carrega e não tem coragem de revelar.


A escrita de Miranda Cowley Heller

Heller utiliza-se de Elle para contar aos leitores a sua história em primeira pessoa. Usando de diferentes locais, datas e horários são indicados para que se saiba em que momento do presente ela está e em que parte do passado ela irá nos contar.


Quero contar a verdade, implorar para ela me salvar, mas não posso fazer isso.


Dividido em cinco partes, os três primeiros levam o nome de Elle, Jonas e Peter - e aqui vale uma observação, apesar de levar os nomes do amigo/amante e do marido, ao contrário do que eu imaginei ao ler os títulos não temos a visão deles, mas sim a dela em relação a como os conheceu e a convivência. Os dois capítulos que encerram a história tratam sobre o verão que eles estão vivendo e o fechamento com o dia de hoje.

Como o mar, a história vai aos poucos te capturando, até te surpreender com ondas e repuxos que fazem a vontade de virar mais uma página constante. Com uma escrita fluída, Miranda Cowley Heller te convida a descobrir o que virá depois, a confirmar suspeitas e se pegar pensando qual seria a minha atitude se vivesse as mesmas situações. 


Só para ficar claro, nunca vou amar alguém do jeito que amo você.


E para quem ficou curioso, a explicação do título está em detalhes na página 30, de forma direta, fácil e que sim, combina com tudo o que acompanhamos no decorrer da história.

Um pequeno spoiler para dar um alerta de gatilho, se você não tem interesse em saber pule para a parte de O que eu achei: entre as situações relatadas no núcleo em que Elle e sua família está inserida, há descrição de assédio sexual e estupro, eu, que nunca passei por isso, me senti agoniada, então fica o aviso para quem o assunto é ainda mais sensível.


Dentro de mim, no silêncio, estava gritando tão alto que o som preenchia o vazio, um terror que quase não conseguia controlar.


O que eu achei

Como eu tenho o hábito de não ler nada sobre a história, confesso que iniciei a história de Miranda Cowley Heller sem muita empolgação, logo no início parecia ser mais um romance onde o envolvimento adúltero era o tempero das cenas de sexo. Mas conforme a leitura foi avançando, ficou claro para mim que a obviedade estava apenas na superfície da lagoa deste palácio de papel.

É um livro sobre culpa e as escolhas que ela nos leva a tomar, sobre os diferentes tipos de amores, os laços familiares, o desejo de proteger e ser protegido, de se mostrar e se esconder, sobre enxergar e se deixar cegar, sobre união e separação. E todo este somatório acabou me prendendo nas reflexões que a leitura trouxe, fazendo as quatrocentas páginas voarem enquanto eu via Elle crescer e amadurecer.


Eu sempre disse que ia envelhecer, mas você se recusou a acreditar em mim.


Ficando a dica para quem, como eu, gosta de descobrir o que as superfícies mais calmas escondem e refletir sobre ficções cujos assuntos abordados não são raros na realidade, podendo ser encontrado na vizinhança, nas páginas de jornais ou até mesmo em um núcleo familiar.


O Palácio de Papel
The Paper Palace
Miranda Cowley Heller
Tradução: Camila von Holdefer
intrínseca
2021 - 400 páginas

Esta resenha não é patrocinada, a assinatura do clube citado é pago integralmente pela autora.

7 comentários:

  1. Oi
    Eu adorei a sugestão 🙂 parece ser bem interessante, ainda não conhecia a autora

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  2. O livro aborda temas importantes que acontecem no nosso dia a dia, e que nos faz refletir muito,gostei bastante da sua resenha, bjs.

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  3. A princípio lendo a sinopse tive a mesma ideia que vc que era algo apenas sobre adultério depois vendo que muda o foco vemos mais detalhes da história
    Abraços,
    Alécia, do Blog ArroJada Mix

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  4. Muito boa a sua resenha! Eu fico muito curiosa para desbravar além das superfícies mais rasas, então quando começo esse tipo de leitura não consigo parar.
    Beijão! ♥

    Relíquias da Lara

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  5. que bacana esse livro, gosto dessa abordagem!

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  6. Gosto dessa sensação de que algo que eu não esperava tanto acaba me encantando e me surpreendendo. Adoraria ler.

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  7. Gostei da indicação, parece ser um bom livro, anotado!

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