Sinopse: Um jovem de dezessete anos, diante da doença da mãe, decide desfazer um passado de mentira e de ilusão a respeito da identidade do pai. As memórias, trazidas pela tia, percorrem os horrores da guerra, a fuga da aldeia e do país, a reconstrução da família em solo brasileiro. Frizero concentra a carga dramática da história no que ela tem de mais importante, que é a complexidade do ser humano, capaz de matar para criar, de mentir para salvar e de perdoar para seguir em frente.
Uma mãe que não se encontra mais no tempo presente leva o filho jovem ao passado junto com os seus delírios. Usando a língua da sua terra, o rapaz acredita ouvir o nome do pai desconhecido antes de ela retornar ao seu sono febril. Fazendo-o recordar de todas as suas incertezas.
Pois o passado de sua pequena família é feito pela sua própria imaginação. É na sua mente que ele deseja a pátria e a gente de sua mãe e sua tia com base nas únicas três fotografias que sobraram de uma fuga apressada durante uma guerra. Em paralelo ele pensa na utilidade de ter uma figura masculina, seja através de irmãos ou do pai desconhecido. Pois assim teria ajuda para manter a mãe em segurança durante as suas crises.
Fiquei mareado por ela o resto da noite, com o nome do meu pai transtornado a minha vigília. Recordar sempre me deixa a boca amarga e o coração oco.
Mas quase duas décadas depois dos acontecimentos cabe a Tia Mirna, a responsável pelo trio que aqui se refugia revelar e complementar as peças faltantes desta história.
A escrita de Robertson Frizero
O autor brasileiro Robertson Frizero escolheu a voz de Emanuel para compartilhar com o leitor em uma narrativa em primeira pessoa as descobertas que faz não somente sobre os eventos envolvendo a sua família, como da sua própria origem em uma história de memórias que o preparam para um futuro ainda desconhecido.
Acompanhado pela tia Mirna, sua mãe Marija e seu amor adolescente Madalena, é sem rebeldia ou explosões, mas com doçura e sensibilidade que o vemos trazer memórias da própria infância e varrer pouco a pouco cada mentira que ajudou as duas irmãs a sobreviverem uma guerra, para se defrontar com a verdade nua e crua, que nenhuma criança estaria preparada para encarar.
Pouco conheço do que quero relatar. Sei apenas o que ouvi dos lábios de mamãe, pedaços de história colhidos nos poucos momentos de ternura da minha infância.
Com capítulos curtos, Frizero consegue unir uma escrita objetiva e forte com gentileza e carinho. O que gera um equilíbrio entre a dor e a tristeza com o perdão e a esperança de viver outro dia, pois já que estamos aqui, vamos sonhar e criar planos.
Pois mais do que tudo Longe das Aldeias fala de sobreviver as tragédias de uma guerra, administrar suas perdas e efeitos colaterais, e no caso de Mirna e Marija de perder todos os seus pontos de referência. O que torna o feito das duas ainda mais impressionante.
O que eu achei de Longe das Aldeias
Eu ganhei este livro quando assinava as duas modalidades da TAG em um final de ano. E a minha primeira surpresa foi ver o nome de um antigo professor de inglês na capa. A segunda surpresa foi o próprio livro, o primeiro romance de Frizero encanta por seus personagens e escrita.
Pois quando a história começa não há nada indicando o caminho. Temos uma mãe, Marija, doente e vivendo entre lembranças do passado e o esquecimento do presente, uma pequena família de imigrantes onde duas mulheres fugiram de uma guerra de um local desconhecido. e um rapaz que só conhece o restante de seus familiares através das histórias da tia Mirna.
Chegamos a esta terra nova, mas vivemos em um casebre obscuro, ainda no vilarejo antigo dos meus avós.
Mas conforme a tia Mirna resolve aos poucos tirar o véu que esconde o trajeto das irmãs até ali, tanto Emanoel quando eu fomos aprisionados em uma história de muita dor e sobrevivência. Aqui foi a fantasia e a ilusão que mantiveram Marija viva e capaz de criar um menino gerado em meio ao caos da guerra, já que a história real é insuportável de encarar.
E é essa menina que acaba envelhecendo muito mais do que os dezoito anos corridos no período da narrativa que nos faz pensar sobre o porquê devemos lutar sempre pela paz. Pois na guerra não existem vítimas maiores que os inocentes, onde mulheres, crianças e os mais velhos são subjugados pelos métodos mais desnecessários.
Faltava-me a caverna escura para me esconder, por sete dias e sete noites, das memórias reveladas pela febre intermitente de minha mãe.
Por isso a minha recomendação deste livro que é rápido de leitura, mas muito intenso em suas reflexões. Confesso que gostaria de escrever muito mais coisas, mas não quero estragar as descobertas de quem o abrir, pois o risco de spoiler é grande, então só digo: leiam.
Longe das Aldeias
Robertson Frizero
Dublinense
2015 - 96 páginas
É um livro que trás reflexões e faz o leitor ler devorando as páginas, uma indicação boa de livro para os amantes da literatura.
ResponderExcluirOi
ResponderExcluirEu adorei a sugestão de leitura 📚 é bem interessante. Ainda não conhecia o trabalho do autor, já quero ler...
Gostei da indicação, parece ser uma leitura bem interessante, do tipo dos que eu mais gosto, valeu pela indicação!
ResponderExcluirAinda não conhecia esse livro, mas gostei da resenha, parece ser interessante e reflexivo.
ResponderExcluirOi, tudo bem? Que premissa mais incrível, não conhecia o autor mas fiquei curiosa. A edição está linda. Um abraço, Érika =^.^=
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