Sinopse: Um furacão acaba de passar pela vida da professora espanhola Blanca Perea: o que parecia um casamento feliz de vinte anos termina bruscamente quando seu marido lhe abandona por uma mulher mais jovem, e logo ela é avisada de que, além da nova união, o novo casal também espera um filho. Incapaz de continuar vivendo do mesmo jeito enquanto seu coração está despedaçado, ela aceita uma proposta de emprego nos Estados Unidos para organizar os arquivos esquecidos do falecido professor Andrés Fontana. mais do que um recomeço, é a chance de Blanca se reencontrar, descobrir o que existe dentro de si e reconstruir sua felicidade. O trabalho, que no começo parece simples, se mostra cada vez mais suspeito e, entre documentos e novos colegas, como o charmoso Daniel Carter e o rígido diretor Luis Zárate, Blanca começa a perceber que algumas coisas não são esquecidas por acaso.
Escrito pela espanhola María Dueñas, a mesma autora de O Tempo Entre Costura, o título dado para a versão brasileira definitivamente não representa a narrativa. O título original de Misión Olvido representa muito melhor essa história que na verdade é três, já que podemos dizer que o livro é composto de três personagens principais.
Blanca Perea é uma professora universitária, na casa dos quarenta anos, com dois filhos iniciando a vida adulta, tentando administrar um divórcio recente após uma vida se colocando em segundo lugar para evolução profissional do marido.
De qualquer maneira, antevia que meu trabalho não seria nem estimulante nem enriquecedor, mas, por ora, bastava-me ter conseguido, graças a ele, fugir da minha realidade com a pressa que do diabo fugindo da cruz.
Precisando de um tempo, ela pede ajuda para uma transferência temporária. Entre as bolsas ainda disponíveis os destinos são Lituânia, Portugal e Estados Unidos. Em um primeiro momento ela cogita Portugal, onde ela estaria longe e perto ao mesmo tempo.
Enquanto decide o seu destino ela recebe mais uma notícia bomba, seu marido vai ser pai novamente, agora de uma menina. A menina que ele lhe negou tentar mesmo após inúmeros pedidos. E na necessidade de se afastar ainda mais, ela decide colocar um oceano de distância e pega uma bolsa na Califórnia.
Aquela pequena mudança de planos no calendário desviou irremediavelmente seu destino: por conta dos maus passes da história, nunca voltou.
O objeto da sua pesquisa é o professor espanhol Andrés Fontana, falecido em 1969, teve toda a sua documentação esquecida e armazenada de forma desorganizada em um porão da universidade.
Inicialmente o trabalho é feito de forma mecânica, mas logo a história que os inúmeros papeis escondem atraem a atenção de Blanca, fazendo com que ela dê a devida atenção ao homem que saiu da pobreza na Espanha e nunca mais voltou a ver os seus devido à guerra mundial e a ditadura que assolou o seu país.
Nessas circunstâncias, decidi comemorar a data, talvez para provar a mim mesma que a vida, apesar de tudo, seguia em frente.
Mas além da sua própria história, há os papeis falando das missões jesuíticas em território americano que despertam a atenção em outras pessoas. Principalmente as que lutam pela não instalação de um shopping em um agradável ponto da cidade de Santa Cecília.
Como o professor e escritor Daniel Carter, que além de estar na defesa do local foi um aluno orientado pelo próprio Andrés, tendo vivido as suas próprias aventuras na Espanha, as quais mudaram a sua vida para sempre.
A escrita de María Dueñas
A autora mescla narrativa em primeira e terceira pessoa, conforme o personagem escolhido para o capítulo. Por se tratar muito mais de passado do que presente, aos poucos ela vai nos revelando o cotidiano de Blanca, o caminho percorrido por Andrés e o motivo pelo interesse de Daniel nas missões tão pesquisadas pelo seu mestre.
E apesar da sinopse dar um ar de suspense, o mesmo não se reflete na escrita. Não há perigos físicos, apenas os mentais quando os personagens são obrigados a enfrentar os próprios fantasmas. Seja Blanca tendo que superar a própria mágoa com o fim de um relacionamento ao qual ela tanto se doou, seja Daniel tendo que abrir a sua própria caixa de pandora.
Uma vida que, de repente, quase de um dia para o outro, havia exigido que me reinventasse e começasse a dar voltas incertas.
Os personagens secundários complementam a história, como Rebecca que já passou pela mesma situação de Blanca e se torna sua primeira amiga nos Estados Unidos, a funcionária da universidade Fanny que foi recomendada por Andrés e vive com uma mãe amargurada, dona Antonia que recebe os jovens estudantes tão bem em sua casa na Espanha, a irmã de Blanca que quer ver fogo no parquinho e o diretor bonitão.
Como cenário há guerra, ditatura espanhola e os efeitos em sua sociedade enquanto os personagens vão construindo o que Blanca só irá descobrir anos depois, quando organizar os papeis de Andrés.
O que eu achei de A melhor história está por vir
Eu gostei muito do início da narrativa, a sequência de fatos que fazem Blanca trocar a Espanha pelos Estados Unidos para fugir de suas tristezas já mexeram comigo. Afinal, quantas pessoas já não desejaram pelo menos uma vez na vida deixar todos os problemas para trás e recomeçar do zero sem a sombra do passado? Mesmo que por um curto período de tempo.
E o livro captou de vez a minha atenção quando a vida do professor André Fontana passa a ser contada, aliás, o primeiro ponto negativo na leitura para mim foi parar de explorar a vida do personagem, que se apresentou tão rico e teve a sua narrativa interrompida do nada para entrar um terceiro personagem.
Mas atingir certa idade tem seu lado positivo. Você perde algumas coisas pelo caminho, mas ganha outras também. Aprende a ver o mundo de outra maneira, por exemplo, desenvolve sentimentos estranhos.
E quando a história passa a ser do Daniel Carter meu ritmo de leitura passou a diminuir, apesar de instigar a procura por uma conexão que vá além do fato de ele ser um aluno do Andrés enviado para a Espanha, tendo contato com pessoas do passado do professor, senti falta de mais exploração disso.
E não só dos contatos como do escritor que ele vai pesquisar, pois aqui, dando um spoiler - pule o parágrafo se não quiser nenhum - acaba sendo uma história de amor de início proibida que dá um toque de comédia na narrativa quando ganha apoio da missão americana em solo espanhol, mas ao mesmo tempo cansa um pouco, devido a pausa total que dá no restante da história.
Dizem que a compaixão é um sintoma de maturidade emocional; não é uma obrigação moral nem um sentimento que nasce da reflexão.
O que me fez achar o tempo presente parecer um tanto superficial, ficando um tanto corrido e pouco explorado e as demais histórias com a sensação de que havia muito mais para ser explorado.
Mas no geral eu gostei, achei super interessante a questão das missões jesuíticas, que eu não tinha conhecimento nenhum, e me fez recordar as que temos no sul do Brasil e nos países vizinhos.
Ficando a dica para quem ficou curioso, gosta da escrita da autora, curte narrativas com fundo histórico ou simplesmente para quem gosta de ler.
A melhor história está por vir
Misión Olvido
María Dueñas
Tradução: Sandra Martha Dolinsky
Planeta - 352 páginas
Originalmente publicado em 2012
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