quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Meia-Noite em Bhopal


Em uma madrugada de muitas festas no ano de 1984 uma nuvem de gás tóxica escapa de uma gigante americana fabricante de pesticidas na cidade de Bhopal, na Índia. O resultado: mais de trinta mil mortos. O primeiro problema deste livro: não estamos falando de ficção.

Para relatar uma das maiores tragédias mundiais da indústria química os autores Dominique Lapierre e Javier Moro retrocedem no tempo, e através de pessoas reais nos contam o que existe atrás da tragédia: cultura, pobreza, exploração. Afinal, quanto vale a vida de um cidadão do terceiro mundo que vive em uma favela?

Logo de início seremos apresentados a uma Padmini criança, moradora de uma aldeia indiana que aos 8 anos de idade, junto com os seus irmãos caçulas, precisa trabalhar para ter o que comer em casa. Aqui temos o retrato de crianças sem infância, sem estudo e expostas a insegurança de uma fábrica.

Como ocorre em muitas famílias, com as pragas que devoram as plantações e a falta de alimentos para os animais, eles partem rumo a Bophal e ali tem o seu quadrado demarcado no Orya Bastí, um bairro de favelas.

Em paralelo o leitor é informado sobre os pesticidas, seus males, os níveis de segurança que as fábricas devem ter, a visão dos grandes executivos, a estratégia comercial, o uso do terceiro mundo de forma exploratória.

A imprensa aqui também está representada, no caso pelo repórter Rajkumar Keswani que passou avisando da tragédia que a fabrica poderia causar, mas cujos textos foram ignorados.

Os capítulos intercalam o lado das vítimas e dos seus assassinos, a esperança que a bonita fábrica proporciona arrepia ao leitor por saber qual será o fim da história, mas não das pessoas pela qual se acostuma a conviver pelas páginas.

O livro é triste, dolorido e infelizmente real. Ao mesmo tempo ele possui um colorido, uma simpatia ao mostrar culturas diversas em um lugar só. É um livro para repensar o que aceitamos em nossas terras, sobre o quanto o marketing pode esconder verdadeiros monstros, mas também sobre heroísmo e ignorância, sobre fé e empatia.

E naturalmente as eternas perguntas que perseguem situações deste tipo: E se o vento houvesse levado a fumaça para o lado rico, haveria impunidade? Se a segurança fosse realmente prioridade, haveria mortos?

Para encerrar o segundo e último problema é a edição brasileira, que reduziu o Epílogo e assim o final de alguns personagens, entre eles Padmini, a menina que acompanhamos até virar mulher. Consegui descobrir o que acontece com uma edição espanhola.

Mesmo assim vale e muito a leitura. Entre mocinhos e vilões reais, amor, esperança e lágrimas, a narrativa fluída irá te levar por um caminho sem volta para todos.

Meia-Noite em Bhopal
Era Medianoche em Bhopal
Dominique Lapierre e Javier Moro
Tradução Sandra Martha Dolinsky
Editora Planeta
2001 – 357 páginas

Spoiler:
Se você leu o livro e chegou até aqui justamente querendo saber o que houve com a Padmini, acalmo seu coração: ela e o seu marido se salvam, ela não consegue mais viver no bairro da tragédia e eles acabam fazendo o caminho contrário da sua família, plantando seu próprio alimento. O final é uma ironia da vida, pois eles recebem sementes transgênicas da Monsanto. 

2 comentários:

  1. Obrigada, acabei de ler o livro e me deparo com o epílogo nada falando de Padmini. Estava enloquecida procurando alguma informação. Querida ela, meu coração está partido com esse livro. Chorei de ficar com os olhos inchados. Precisei parar de ler algumas vezes.

    Obrigada

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  2. De nada, também não sosseguei até descobrir o que havia acontecido com Padmini. Uma história dolorosamente triste e real.

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