sábado, 10 de março de 2018

O Alforje


A edição mais bonita que recebi até agora da TAG é um livro inédito no Brasil da escritora iraniana Bahiyyih Nakhjavani, cujos eventos no deserto são uma verdadeira fábula moderna, que mistura fé, humanidade e caráter.

As ilustrações do Adriano Rampazzo são uma leitura a parte, visto que ali estão os personagens em movimento, proporcionando um prazer extra aos fãs de livros físicos ao manuseá-lo.

Narrado em terceira pessoa o mesmo fato é apresentado por nove pessoas: o ladrão, a noiva, o líder, o cambista, a escrava, o peregrino, o sacerdote, o dervixe e o cadáver. A cada visão um novo detalhe, que vai dando ao leitor um panorama completo da situação, ao mesmo tempo em que observamos como julgamentos prematuros sem saber nada do outro pode nos levar a quilômetros de distância da verdade.

A sequencia das apresentações é perfeita, de início ao fim da narrativa a um encaixe cronometrado  enquanto eles entram e saem de cena. Para cada um há presente, passado e talvez um futuro. Acompanhamos suas incertezas e convicções, assim como encontros e desencontros até chegarem ao deserto.

O alforje (ao qual o meu lado doceiro muitas vezes me fez chamar de alfajor) é uma pequena e misteriosa bolsa que irá passar por cada um dos personagens em pleno século XIX no trecho entre Meca e Medida, território sagrado dos peregrinos e de muitos perigos devidos aos bandos que ali aguardam caravanas e caminhantes solitários para roubar e até mesmo matar no silencioso deserto do oriente médio.

De origens tão distintas quanto as suas razões para estar em meio ao nada, é interessante observar a complexidade do ser humano, o que os move para atingir os seus objetivos, que pode ser da pura liberdade, de ambição por dinheiro e poder, uma tristeza profunda ou simplesmente fuga. 

Esta iraniana que é uma cidadã do mundo narra a sua história de forma que ela possui poesia, cheiro, calor, fé e poeira, em uma velocidade variada mas que não nos deixa abandonar as suas páginas. Uma escrita profunda em sua simplicidade, em uma leitura fácil e tranquila, onde basta se deixar levar.

O alforje
The saddlebag
Bahiyyih Nakhjavani
Tradução: Rubens Figueiredo
TAG – Dublinenses 
2018 – 336 páginas

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