Virei à última página e não consegui definir uma opinião. Não houve amor, nem horror. Existem livros que não nos capturam, e viramos suas páginas apenas por ter algo interessante, ou por uma opinião mais elogiosa.
Em um livro que é uma mistura de autobiografia com biografia, a cantora/compositora/poeta Patti Smith conta um pouco de sua história antes da fama, e a história do fotógrafo Robert Mapplethorpe, quando ambos perambulavam perdidos tentando descobrir o que eram.
O livro é bom para quem gosta do trio música/arte/cultura, principalmente anos 1960 e 1970 onde figuras como Janis Joplin, Jim Morrison e Andy Warhol incendiavam os Estados Unidos. As referências e influências são fortes. Assim como a ligação com as drogas e o lado nada glamoroso de quem buscava a fama.
O livro é atraente para quem curte leitura LGBT, visto que acompanhamos a dificuldade inicial não só de Robert, mas também de outros nomes famosos em assumir suas preferências, em brigas internas que envolvem família e religião até se tornarem essência de suas artes.
O livro é tocante no que se refere à amizade. Se inicialmente Patti e Robert são um casal, com o tempo eles são irmãos de alma que se complementam. A torcida pelo sucesso um do outro, o inspirar um ao outro, que mesmo com todas as diferenças tornou a sua aliança um laço eterno. Um tipo de amor que é sinônimo de doação, onde não há espaço para a inveja ou ciúmes estragar.
O livro é chato em sua forma narrativa, que muitas vezes lembram os diários adolescentes com longas descrições de o que cada um vestia, móveis escolhidos, ou dias que se repetiam, tornando a leitura um tanto cansativa para quem não é um fã da autora.
O livro pode ser decepcionante para quem tem mais curiosidade sobre ela, embora seja avisado que o livro é o pagamento de uma promessa, sendo muito mais um tributo a Robert do que sobre Patti.
O livro pode ser abandonado por quem não se interessa por música, homossexualismo ou ícones do século passado. Um leitor mais casto irá se horrorizar. Um leitor mais desatento não irá compreender a rica herança dos muitos nomes citados.
Quanto a mim, adorei acompanhar o vai e vem de nomes conhecidos e desconhecidos, a vida louca e sem planejamento de Patti e Robert, senti a melancolia do fim trazido pela AIDS (me fazendo recordar dos meus próprios ídolos) e me diverti com algumas curiosidades. Mas me aborreci com alguns detalhes que me lembraram das cartas de uma amiga de infância cujo apelido também era Paty e narravam apenas as roupas e objetos comprados por sua mãe quando oitocentos quilômetros nos separavam.
Resumo da história, não eu não abandonaria a leitura, mas não, acho que não o leria novamente. Com isso a única coisa que posso dizer é, se ficou curioso com a história, leia, e depois me conte se gostou ou não, quem sabe os teus argumentos me ajudem a desempatar a minha balança.
Só Garotos
Just Kids
Patti Smith
Tradutor: Alexandre Barbosa de Souza
TAG – Companhia das Letras
2010 – 310 páginas
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