Sinopse: Aos 35 anos, Nora Seed é uma mulher cheia de talentos e poucas conquistas. Vendo pouco sentido em sua existência, ela coleciona tristezas e arrependimentos. Quando Nora se vê na Biblioteca da Meia-Noite, ganha uma oportunidade para fazer tudo de novo. Como em um passe de mágica, os livros na Biblioteca da Meia-Noite permitem que Nora experimente as vidas que teria vivido se tivesse tomado outras decisões. Com a ajuda de uma velha amiga, ela agora pode reverter cada uma das ações das quais se arrepende, até chegar à vida ideal. Mas nem sempre as coisas correm como o esperado, e o novo rumo que sua vida toma coloca em risco tanto a biblioteca quanto a própria Nora. Antes que o tempo acabe, ela deve responder à pergunta mais importante de todas: O que faz a vida valer a pena?
No mês de Julho/21 recebi pela minha assinatura da TAG Inéditos o livro A Biblioteca da Meia-Noite do escritor inglês Matt Haig. Como mimo uma ecobag da rainha do crime Agatha Christie.
Nora foi o tipo de criança e adolescente prodígio. Ótima nadadora, poderia ser uma futura atleta olímpica. Excelente estudante, parecia que poderia ser o que quisesse e teria muito sucesso. Criando muita expectativa em todos a sua volta e naturalmente nela mesma.
Mas a realidade aos seus 35 anos é que ela se formou em filosofia e trabalha como vendedora em uma loja de instrumentos musicais que está indo mal das pernas. Mora sozinha, seus pais faleceram, tem pouco contado com irmão e sua única amiga, tendo assim como companhia um gato.
Mesmo quando não estava chovendo, ela passava o recreio da tarde inteiro na pequena biblioteca.
Tudo transborda em poucas horas quando ela é avisada que o seu gato está morto na rua e que ela perdeu o emprego. Sentindo-se totalmente inútil, e acreditando piamente que só torna a vida das pessoas que estão à sua volta pior, ela resolve dar fim a tudo ao juntar os seus antidepressivos e bebida alcóolica.
Em uma linha tênue que separa a vida e a morte, a sua mente vai parar em um prédio antigo junto à bibliotecária que a apoiava nos tempos da escola. Nas estantes todos os "se's" da sua vida e um livro muito pesado, onde constam todos os seus arrependimentos.
Enquanto olhava fixamente para a expressão calma e tranquila de Voltaire - aquela total ausência de dor -, um sentimento inevitável começou a tomar forma nas sombras.
Usando dois fatores muito comuns na vida de qualquer ser humano, que são escolhas e culpas, o autor Matt Haig nos leva em uma leitura que consegue ser fluída e ao mesmo reflexiva na forma como o ser humano muitas vezes encara a vida. O livro possui muitos clichês? Sim. Mas a verdade é que as questões existenciais são muito comuns em nosso cotidiano, e quando abordadas, não há muito como fugir.
Pois quase todas as pessoas, aqui isento os psicopatas, carregam a sua dose de culpa e arrependimentos. E se eu tivesse feito isso no lugar daquilo? E se eu tivesse ficado quieto? E se eu tivesse falado tudo o que está entalado? Se eu tivesse dito sim? Se eu tivesse dito não? Se eu simplesmente tivesse dobrado uma rua antes? Se eu tivesse...?
O universo tende ao caos e à entropia. Essa é uma lei básica da termodinâmica. Talvez seja uma lei básica da existência também.
E é justamente este leque que o escritor explora. A cada livro que Nora abre, ela para exatamente no momento de vida que estaria vivendo naquele instante. E logo de início a primeira coisa que observamos é que os problemas simplesmente não desaparecem, principalmente quando as suas raízes são mais profundas do que imaginamos.
Em contrapartida, ao ter uma visão diferente de si, ela também se permite compreender que nem tudo era motivo para sentir culpada, que nem tudo era motivo para ter ficado remoendo arrependimentos. E conforme ela vai se isentando e se perdoando, o livro que antes exigia muita força vai ficando mais leve, e a vida ganhando novos contornos.
Cada movimento tinha sido um erro; cada decisão, um desastre: cada dia, um afastamento de quem ela havia imaginado que seria.
Como eu comentei nos parágrafos iniciais, este livro tem nas primeiras páginas um gatilho muito forte para quem sobre de depressão, pois sim, o que leva Nora para a linha tênue é justamente o desejo de acabar com a própria vida, de não ver solução para o que está em sua volta, enfim, de não ter mais esperanças de que nada pode ser diferente.
Colocando a luz sobre as pessoas que sentem vontade de sumir, seja fugindo de tudo ou de todos ou dando fim a própria existência. Muitas alimentadas pela crença de que só atrapalham, de que as pessoas ao redor ficariam muito melhor sem a sua presença, creditando tudo o que acontece de ruim em sua conta. O que torna a sua vida ainda mais difícil e dolorosa, principalmente por algumas parecerem invisíveis aos olhos dos que estão ao seu redor, onde os pedidos silenciosos de ajuda não encontram quem os escute.
Quando você fica muito tempo num lugar, esquece como o mundo é grande e vasto. Não tem noção da extensão de suas longitudes e latitudes. Assim como, supôs ela, é difícil ter noção da vastidão dentro de qualquer pessoa.
A Biblioteca da Meia-Noite foi um livro que li em dois dias, e que sim, mexeu comigo, pois foi inevitável que eu não remexesse no meu próprio livro de arrependimentos e repassasse alguns "se's" que são tão presentes que nunca se tornaram memória. Um encontro ao qual sigo digerindo questões enquanto escrevo esta resenha.
Por isso foi muito interessante pra eu ver através da ficção que muitas vezes os problemas não mudam de lugar, que os sonhos e desejos alheios não são escolhas nossas, que é apenas ilusão acreditar que o que não foi vivido tornariam o presente mais feliz. Afinal, não existe vida perfeita.
E a gente passa tanto tempo desejando que a vida fosse diferente, se comparando com outras pessoas e com outras versões de nós mesmos, quando, na verdade, a maioria das vidas contém um certo grau de coisas boas e um certo grau de coisas ruins.
E ao mesmo tempo eu tive um sentimento de compartilhar a leveza e a felicidade quando cada arrependimento de Nora se desfaz, ou quando ela se dá conta que determinado 'se' não era a solução dos seus problemas, permitindo que o livro me desse a chance de refletir sobre as situações que me acompanham sem considerar uma medida tão extrema quanto de Nora.
Pois a verdade tanto na ficção e na vida real é que do passado devemos guardar as boas lembranças e o aprendizado, para que cada dia a gente possa decidir por aquilo que realmente é o que desejamos. Que cair, levantar, errar e acertar fazem parte, e não devemos nos colocar nos banco dos réus por cada leite derramado. E para quem já está feliz da vida sem se preocupar com nada disso, fica a leveza da escrita para mergulhar nas muitas vidas de Nora.
A Biblioteca da Meia-Noite
The Midnight Library
Matt Haig
Tradução: Adriana Fidalgo
TAG - Bertrand Brasil
2020 - 319 páginas
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Achei o livro bastante agradável e emocionante, é um livro que acaba provocando o leitor uma reflexão sobre a nossa vida, gostei muito de conhecer o livro, bjs.
ResponderExcluirOi
ResponderExcluirEu adorei a sugestão de livro 🙂 ainda não conhecia o trabalho do autor. Já quero ler
Adorei a resenha e já quero ler, adoro essas histórias cheias de emoção. Beijo!
ResponderExcluirOi, tudo bem? Que premissa mais interessante. Sempre me pergunto o que faria diferente se pudesse voltar no tempo. Mas é a vivência que nos ensina tantas coisas. Um abraço, Érika =^.^=
ResponderExcluirLá vou eu, colocar mais um livro na lista de leitura. Obrigada pela dica
ResponderExcluirNossa... Parece um livro que mexe com nossas estruturas e nos faz repensar muitas coisas. Eu ficaria no limbo se recebesse a noticia q um dos meus cats morreu. Muito triste perder 1 animal querido.
ResponderExcluirFiquei muito curiosa sobre o que aconteceu com a personagem.
Beijos,
Paloma Viricio💫💙
Não conheço o livro, mas já gostei dele, é o tipo de leitura que eu gosto, as que me fazem refletir sobre minha vida ....
ResponderExcluirO enredo claro de uma mulher talentosa cheia de conflitos internos. Nara Seed, ela decidiu acabar com a vida, estava triste e amarga, essa também é a realidade da vida atual. Uma história repleta de reflexão.
ResponderExcluirNão posso ver uma sugestão de livro que já fico querendo.
ResponderExcluirÓtima resenha.
Olá,
ResponderExcluirAinda não conhecia o livro, mas pelas questões que ele aborda, já fiquei muito interessada. Gosto de obras que falam dessa questão das escolhas e culpas, pois isso, de fato, é algo que carregamos de diferentes formas. Arrasou demais no post, quero ler!
Beijos!