Sinopse: Diogo Santiago é um respeitado intelectual moçambicano. Poeta e professor universitário em Maputo, ele volta pela primeira vez em anos à Beira, sua cidade natal, às vésperas do ciclone que a arrasou em 2019. Não se trata apenas de um regresso a certo lugar, mas também ao passado longínquo de sua infância e juventude, quando Moçambique ainda era colônia portuguesa. Entre os vivos e os mortos, Santiago revisitará os personagens que fizeram parte de sua história.
No mês de julho a TAG completou sete anos, e como celebração, eu recebi pela minha assinatura da TAG Curadoria o envio do livro inédito do escritor moçambicano Mia Couto, que traz em O Mapeador de Ausência, não apenas a grafia vigente no português de Moçambique como alguns de seus fatos históricos. Recebi como mimo uma ecobag do Edgar Allan Poe. Sim, estou com uma coleção de ecobags da TAG, qualquer dia envio um e-mail para enviar em um tamanho maior para usar nas compras de mercado.
Em 2019 o poeta Diogo Santiago recebe um convite para retornar à Beira, sua cidade natal, onde é recebido com honrarias. Entre os lugares de infância, muitas memórias da infância, principalmente da figura do seu pai, um poeta e jornalista pertencente a um grupo de resistência aos portugueses, vão preenchendo os seus pensamentos.
Escrevo a dedicatória, torno-me numa espécie de autor póstumo
Existe uma melancolia no seu espírito, e conforme é dito por ele, essa viagem também é uma recomendação médica, como se os lugares tão conhecidos pudessem responder perguntas a tantos anos feitas, assim como matar um pouco da saudade que o acompanha.
As ausências são acentuadas ao conhecer Liana Campos, sua mestre de cerimônia e neta do inspetor Óscar Campos da PIDE – sigla para Polícia Internacional e de Defesa do Estado, a polícia salazarista do ditador português António de Oliveira Salazar - que prendeu o seu pai, o poeta Adriano Santiago, durante a guerra de libertação de Portugal, época que Moçambique ainda pertencia ao país europeu.
A poesia não é um gênero literário, é um idioma anterior a todas as palavras.
Ela lhe entrega vários papéis que estavam com a PIDE e foram guardados por Campos que são relacionados a Adriano, incluindo cartas, diários pessoais e relatórios, o que faz com que ambos circulem por cidades próximas.
Em comum, ambos possuem uma busca pendente. Ela está atrás da história de Almalinda – também chamada Ermelinda – sua mãe já falecida que se tornou uma figura do imaginário local., Já Diogo quer saber se o primo Sandro Santiago ainda está vivo, jovem considerado doente pela família por apresentar um comportamento afeminado, que sumiu durante o período que servia ao exército português.
Levo esse livro ao rosto, aspiro o aroma do papel, cheiro o tempo como fazem as mulheres com a roupa dos ausentes.
Em uma corrida contra o relógio tudo precisa ser feito de forma rápida, pois um ciclone está para chegar, mas eles são atingidos antes pelos ventos das lembranças, e ao se deparar com o passado, eles podem finalmente enfrentar sentimentos que os corroem no presente.
Eu sou suspeita para resenhar qualquer livro do escritor Mia Couto, já que sou uma apaixonada pela sua escrita, e como ocorreu em outros livros dele, como A menina sem palavras, O Mapeador de Ausências me encantou.
Um milagre chamado internet. É uma seita com mais seguidores que qualquer religião. E já tem fanáticos...
Alternando a narrativa em primeira pessoa de Diogo com os documentos que ele lê, vamos acompanhando pouco a pouco, de forma poética mesmo nos momentos mais difíceis, dos títulos de cada capítulo, as frases de abertura, os documentos colocados nem sempre em ordem cronológica, as pequenas "brincadeiras" com a memória, enfim, absolutamente tudo tornam a imersão na história mais completa e profunda.
Além disso temos um conjunto de personagens incríveis, como a mãe de Diogo, Virgínia Santiago, que convive com uma sogra difícil, um marido infiel e com a cabeça nas nuvens, e mesmo assim não perde a simpatia com os outros.
Vai falando de si mesmo, sempre de olhos fechados, como se lhe custasse suportar a luz do dia.
A família Fungai também nos complementa e muito a história, como a forte Maniara que nomeia em praça pública os mortos, e seu filho Benedito, que de empregado da família Santiago assumiu o seu papel político, e em pequenos diálogos mostra que mesmo entre as famílias mais engajadas havia invisibilidade.
Somado a isso há o toque de autobiografia e realidade, conforme indicado na nota de abertura do autor, que nos informa que a ficção foi inspirada em pessoas - como o próprio autor do Mia Couto -, episódios - como o massacre cometido pelas tropas portuguesas descritas no livro - e lugares reais, como a própria Beira, cidade natal do escritor. Fazendo o leitor viajar entre o período atual e a década de 1970.
Aprendi que os homens de grandes ideais são, muitas vezes, pessoas de poucas ideias.
Na minha visão o livro explora muito bem os laços que construímos ou não com pessoas e locais, assim como situações da nossa própria história que queremos lembrar, que queremos esquecer ou que muitas vezes mudamos para dar um toque especial em nossas memórias.
Também nos deparamos com as semelhanças e diferenças dos senhores da guerra com aqueles que combatem, hora espelho, hora contraste, temos um toque de humanidade em meio ao desumano, como se separando os que mandam dos que são mandados. E mesmo entre os que combatem encontramos os que impedem a liberdade, podam entre os seus o direito de fazer suas próprias escolhas, obrigando a se adequar ao que é considerado correto.
Alguém disse que a esperança alimenta multidões. Pois eu digo: o desespero cria exércitos alucinados.
Um livro que decidi ler com calma, e me via espantada ao final de cada dia o quanto de páginas já passadas, ao qual encerrei com um misto de satisfação e tristeza por ter chegado ao fim.
E para quem ficou com vontade de ler, leitura que mais do que recomendo, e não é associado da TAG, a boa notícia é que a Companhia das Letras já está preparando o lançamento da edição que irá para livrarias. Então coloca na tua lista de desejos e já fica de olho.
O Mapeador de Ausências
Mia Couto
TAG - Companhia das Letras
2020 - 293 páginas
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Gostei bastante dos detalhes da capa, é uma história simples e encantadora, onde o personagem vai relembrar em sua memória a sua infância, as pessoas, é um livro bem gostoso de ler, bjs.
ResponderExcluirOlá Querida, Tudo bem? Adorei a resenha, estou muito curiosa pra ler.
ResponderExcluirMuito Obrigada
Bjs Karina
Curioso o nome O Mapeador de Ausências, fiquei com vontade de ler!
ResponderExcluirOi
ResponderExcluirEu adorei a sugestão de livro 🙂 a amei a capa é linda. Já quero ler
Oi, tudo bem? Os livros da Tag são incríveis, dá até vontade de assinar de novo. Adorei a premissa desse. Um abraço, Érika =^.^=
ResponderExcluirQue história interessante, e a arte da capa e do livro são lindas *__*
ResponderExcluirEu adorei a sua resenha! Fiquei curiosa para ler
ResponderExcluirNão conhecia a Tag Curadoria, fiz até o teste para saber qual caixinha é ideal para mim, é uma ótima oportunidade de conhecer escritores, assim como o Mia Couto! Amei, a resenha e já quero ler!
ResponderExcluirMuito enriquecedor para a maior parte do livro que trata da terra onde tudo acontece, e voltando para mudar o mundo, uma história muito leve de se ler, devido à forma como passou a resenha.
ResponderExcluirGostei da resenha. Nem preciso falar que já quero ler.
ResponderExcluirOlá Andrea, tudo bem?
ResponderExcluirAinda não li nada do autor, mas sempre li muitos comentários positivos a respeito, o que sempre me animou. Gostei de saber o que você achou desse livro, principalmente por saber pelo fato da obra explorar esses laços, que para mim são tão importantes. Arrasou!
Beijos!