terça-feira, 6 de outubro de 2020

O dia em que Selma sonhou com um ocapi

 


Sinopse: Todos os habitantes da pequena Westerwald, uma cidadezinha no interior da Alemanha, sabem que Selma tem um dom muito especial: quando ela sonha com um ocapi, é sinal de que alguém está prestes a morrer.

Selma já havia sonhado três vezes com um ocapi - um bicho com pernas de zebra, ancas de tapir, torso vermelho-ferrugem de girafa, olhos de cervo e orelhas de rato - e em todas as vezes alguém morreu. Assim toda a comunidade ficou em polvorosa por vinte quatro horas, alguns com medo e outros prontos para se despedir, já que eles estavam certos que alguém iria morrer, mas não se sabia quem.

Bastava alguém lhe dizer duas coisas que não tinham qualquer relação entre si para ele criar uma analogia.

Cartas cheias de sempre e nunca foram escritas, revelando verdades e segredos até então impronunciáveis, lotando a caixa de correspondência da cidade. Quando as vinte e quatro horas passaram, estavam todos vivos, e correram para buscar as declarações feitas em um momento de despedida, sepultando os pensamentos revelados antes da hora. Mas naquela vez a morte chegou com atraso, e leva quem eles menos esperavam. 

A história, dividida em três partes, é narrada por Luise, neta de Selma. E pela história acompanhamos a sua infância, início da vida adulta e o período dos seus trinta anos. Através dela conhecemos as histórias da pequena comunidade, começando com Selma, que ficou viúva muito cedo e está sempre atenda a todos. 

Evidentemente eu não sabia que não haveria um amanhã para comprar sapatos na capital.

Também conhecemos os pais de Louise, sua mãe é dona de uma floricultura e vive pensando se deve se separar ou não, questão que fica mais forte quando o seu marido, filho de Selma, resolve sair pelo mundo sozinho para conhecer diferentes culturas, aparecendo lá de vez enquanto, criando um abismo na relação.

Entre os amigos de Selma, há o oculista, que é apaixonado por ela e já iniciou várias cartas se declarando, mas nunca finalizou e muito menos entregou alguma. Tem também Elsbeth e suas soluções para os diferentes males, além de Palm que no momento de maior dor trocou a garrafa por uma bíblia. E por fim a triste Marlies, uma moça que passa os dias em casa de calcinha e pulôver e só sabe reclamar.

Selma sempre achava um transtorno excessivo pedir ajuda.

E por fim, o amor da vida de Luise, que entre tantos personagens comuns e ao mesmo tempo peculiares, não poderia ser algo que muitos chamariam de normal, sendo um monge que vive no Japão, ao qual ela troca cartas semanalmente.

A escritora alemã Mariana Leky utiliza-se do realismo fantástico para aproximar os seus leitores desta pequena comunidade, onde as relações são movidas pelo afeto, prevalecendo com o outro muito mais a gentileza e a preocupação do que qualquer outro sentimento mesquinho.

De todo modo, eu havia colocado um pé na fresta da porta.

Através de seus personagens ela nos conta uma história sobre a rotina de uma pequena comunidade, onde há perdas, mortes, dor, saudades, mas também muita vida e amor. E os eventos extraordinários só servem para fortalezes os laços dos que ali tudo compartilham, ensinam e aprendem.

Por algum motivo, que eu ainda não consegui decifrar, a história me causou um estranhamento bom. A minha leitura não foi rápida, pois eu tinha a impressão de ser transportada para dentro do livro, e me via pensando, respondendo e realizando novas perguntas aos personagens.

Durante muito tempo ninguém tinha pisado naquele lugar. Tanto tempo que o lugar no chão nem sabia o que era isso.

Quando terminei a última página, fiquei com saudades de todos. Cheguei a pensar em escrever uma carta usando o mesmo endereço do monge Frederik para ter notícia da comunidade. Mas concluí que era hora de me despedir em definitivo, antes que começasse a sonhar com ocapi ou a derrubar coisas também.


O dia em que Selma sonhou com um ocapi
Was man von hier aus sehen kann
Mariana Leky
Tradução: Claudia Abeling
TAG - Editora Planeta
2017 - 315 páginas

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