terça-feira, 27 de outubro de 2020

A Vida Secreta dos Escritores



Sinopse: em 1999, após publicar romances cultuados pelo público e crítica, Nathan Fawles anuncia que vai abandonar a carreira literária e a vida pública, juntando-se ao rol de escritores reclusos que ocupa a mente dos fãs de literatura. No auge da carreira, ele se refugia em Beaumont, ilha paradisíaca na costa do Mar Mediterrâneo. Duas décadas depois, Raphaël Bataille, aspirante a escritor e fã de Nathael Fawles, chega a Beaumont para descobrir o paradeiro do seu ídolo. Também desembarca no local Mathilde Monney, uma jornalista suíça que está determinada a desvendar os segredos do autor, por que, afinal, Nathan Fawles parou de escrever histórias? Ao mesmo tempo, ocorre um assassinato misterioso na ilha, que coloca os três personagens em lados opostos de um enredo repleto de mentiras, crimes, traições, paixão e muita escrita.

A edição da TAG Inéditos de Outubro/2020 traz o título A Vida Secreta dos Escritores do autor francês Guillaume Musso, que já vendeu cerca de 35 milhões de cópias e foi traduzido para 44 línguas. O livro é fino, mas não o julgue pelo tamanho, pois ele é garantia de uma leitura extremamente envolvente, sem exageros. 

Eu sempre conseguia me convencer de que os fracassos preparavam a vitória.

O mapa da Ilha Beaumont abre a leitura, e ao final dá um aperto no coração ao pensar que ela é fictícia, tendo como inspiração outros quatro lugares, estes sim, reais: a cidade litorânea de Bolinas na Califórnia, e as ilhas Skye na Escócia, Porquerolles na França e Hidra na Grécia. O que possibilita o leitor montar um roteiro de viagem para o pós pandemia.

Raphaël é um jovem de 24 anos formado na área de comércio para tranquilizar os pais, mas que tem o sonho de ser escritor como profissão. Há dois anos se dedicava a escrita do seu romance, que já havia sido recusado por uma dezena de editores. O que o fez aceitar um emprego temporário em uma livraria na ilha de Beaumont, onde teria tempo para escrever uma nova história.

E aquela maneira de se erigir em juiz para decidir o que era e o que não era literatura me parecia de uma pretensão sem limites.

A ida para a ilha tem um bônus para Raphaël, encontrar o famoso escritor Nathan Fawles, ao qual possui muita admiração e já leu os livros diversas vezes. Nathan Fawles vive isolado na ilha, em uma casa construída grudada a um rochedo, com seu próprio caminho para o mar, é um local sem sinal de internet, um ambiente rústico, perfeito para escrever, mas o seu morador não quer colocar mais uma palavra no papel.

Só que não é apenas Raphaël e seu manuscrito que estão atrás de Nathan. A misteriosa jornalista Mathilde Monney também está interessada no autor, a ponto de utilizar artimanhas para conseguir se relacionar com ele. Bonita e jovem, em um primeiro momento Nathan sente-se atraído por ela, mas logo ele passa a se sentir perseguido.

O livro não tivera repercussão na imprensa e não se podia dizer que os livreiros o respeitassem, embora tivessem acabado seguindo a onda.

Além disso, estão todos presos na ilha após o assassinato de uma mulher, que é encontrada pregada a árvore chamada de Imortal, um antigo eucalipto que deixa todos os moradores da ilha em estado de tensão, já que o seu isolamento também passa a ser questionado.

O detalhe da história de Guillaume Musso começa no Sumário, que pode deixar o leitor em dúvida se o livro é uma ficção ou sobre como escrever? E eu ouso dizer que ele trata das duas coisas. Em um mistério leve, mas ao mesmo tempo envolvente, ele vai dando dicas de como um livro é construído. Abordando com seus personagens desde cursos de escrita, passando pela dificuldade de um livro ser aceito pelas editoras, até como um autor passa a ser visto quando alcança o sucesso.

Em relação ao estilo, o texto estava cheio de brilhantismo, de figuras de linguagem audaciosas, de alusões bíblicas.

Abaixo do título de cada capítulo temos frases e observações de outros autores - como Umberto Eco, Milan Kundera, Marcel Proust - sobre escritores, livros e escrita. E eles não estão ali por acaso, sendo uma introdução sobre o que está por vir, então não as ignore, elas não estão ali por acaso.

A narrativa se utiliza tanto da primeira quanto a terceira pessoa, sendo envolvente, irônica e questionadora. Com cutucões nos intelectuais, achei muito inteligente por parte do autor utilizar um suspense em estilo romance policial para nortear o que leva alguém escrever e também a se afastar das letras.

Mas os romancistas costumam ver histórias em tudo.

Eu particularmente adorei o livro, ele capturou a minha atenção, achei bem construído e ao final fiquei com pena de terminar.


A Vida Secreta dos Escritores
La vie secrète des écrivains
Guillaume Musso
Tradução: Julia da Rosa Simões
TAG Inéditos - L&PM
2019 - 222 páginas


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A Louca da Casa
A Velocidade da Luz
Autobiografia
Sobre a Ficção - Conversas com romancistas

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