Sinopse: A história comovente e desconhecida das mulheres coreanas na segunda guerra mundial ganha vida neste romance épico, profundo e sensível sobre duas irmãs e um amor capaz de atravessar gerações.
Quando li Pachinko, conheci um pouco da história de quem fugiu da Coreia, em Herdeiras do Mar, descobri a triste história das mulheres que ficaram.
Hana nasceu durante a ocupação japonesa na ilha de Jeju, na escola não teve permissão para aprender sobre a história e cultura do seu país, sendo alfabetizada pela língua do invasor. Filha de um pescador e de haenyeo, ela fica muito feliz ao se tornar responsável pela sua irmãzinha Emi.
Ela é uma cidadã de segunda classe em seu próprio país, com direitos de segunda classe, mas isso não diminui seu orgulho em ser coreana.
Desde cedo as meninas aprendem a admirar o trabalho de sua mãe, uma mulher do mar, que conforme uma tradição de séculos, trabalham por conta própria ao realizarem mergulho marinho sem nenhum equipamento, apenas com o próprio fôlego, sendo muitas responsáveis pelo sustento da família.
E é justamente na sua adolescência, ao sair do mar ao qual realizava sua pesca, que ela vê a irmã de apenas 9 anos correndo perigo com a aproximação de soldados japoneses. Em desespero ela sai correndo d'água, a tempo de salva-la, mas isso custa a sua captura e por consequência a sobrevivência em um verdadeiro inferno.
Quando era mais nova, ela também teria pensado duas vezes antes de deixar sua cama quente para mergulhar nas águas geladas, mas a idade tinha lhe deixado mais forte.
Retirada de sua ilha, ela é jogada em uma casa com outras mulheres na Manchúria. A tarefa delas é prestarem consolo aos bravos soldados do imperador, que fazem filas todos os dias, sem deixar as moças com nomes de flor em paz, sugando suas alma e deixando apenas corpos magros e machucados ao anoitecer.
Não bastasse a violência sexual, Hana ainda precisa lidar com a paixonite de Morimoto, o homem responsável pela sua captura e que a jogou no bordel, e que concentra todos os seus sentimentos de ódio e medo.
O medo é uma dor tangível pulsando através de seus membros como choques elétricos.
Nos tempos mais atuais temos Emi, que nos conta o que aconteceu na vida da família após o desaparecimento da irmã. De questões políticas a casamentos forçados, histórias são escondidas dos filhos, que muitas vezes não compreendem o comportamento dos seus pais.
Assim como Hana, Emi deixa Jeju, mas é pelas próprias pernas que ela vai a Seul. Durante a viagem lembranças do passado vão surgindo, mas elas realmente explodem quando Emi vê o rosto tão procurado na Estátua da Paz, durante uma mobilização das mulheres em frente à embaixada do Japão, ao qual elas pedem um pedido de desculpas formal.
Se ainda estão falando sobre nós, não vamos desaparecer.
Herdeiras do Mar é narrado em terceira pessoa e divide a visão dos leitores em dois tempos: 1943 acompanhando Hana e a transformação de sua vida de uma haenyeo para uma mulher de consolo, um eufemismo para estuprar milhares de meninas. E a visão de Emi em 2011, já velha e carregando toda uma carga de história que sobrecarregam o seu coração. De bônus aprendemos mais sobre as mulheres do mar, uma profissão de poucas e com forte representação cultural.
A escritora Mary Lynn Brancht nos captura em sua história, de forma que é impossível não se sentir impotente por não poder livrar as dores das personagens, que na verdade representam muitas mulheres reais, pois sim, a base desta narrativa não tem nada de ficção.
Familiares assassinados, mortos de fome, sequestrados, vizinhos se voltando uns contra os outros - tudo isso era o seu han, uma palavra que todo coreano conhecia e um fardo que cada um guardava consigo.
Não raro o leitor pode sentir lágrimas em seus olhos, ou ser inundado por um sentimento de injustiça com o que sofreram meninas, jovens e mulheres coreanas. Ao mesmo tempo em que se admira a força das haenyeos, que está representado em cada dia de sobrevivência da personagem Hana.
E como os acontecimentos, a leitura da história é contraditória, ao mesmo tempo que ela me revoltava e angustiava, gerando um peso no peito como se eu estivesse mergulhando nas águas geladas, por outro me fazia virar mais uma página em uma busca esperançosa por um destino melhor.
Um livro para ler e reler, e lutar para que isso nunca mais se repita. O corpo feminino não é troféu, consolo ou qualquer outra coisa dos senhores da guerra. E todas as nações deveriam se envergonhar profundamente da ação de seus homens no passado, para que os novos não as repitam no futuro.
Herdeiras do Mar
White Chrysanthemum
Mary Lynn Bracht
Tradução: Julia de Souza
TAG Inéditos - Paralela
2018 - 303 páginas
É uma história que comove, mulheres que são exploradas, que sofrem, sem chance de defesa, com certeza o corpo feminino não é um troféu como alguns homens pensam, bjs.
ResponderExcluirEssas histórias sempre me comovem bastante, porque podemos ver que mesmo com tudo o que aconteceu no passado, a luta das mulheres ainda é enorme. Mas é por meio da história que podemos aprender com os erros do passado. E aprender mais através de uma história de ficção, mas que retrata a realidade, é melhor ainda.
ResponderExcluirBeijão! ♥
Relíquias da Lara
nossa que interessante essa história! fiquei curiosa, são tipos de livros que gosto de ler! amei
ResponderExcluirAinda não conhecia esse livro, mas parece ser uma leitura interessante, com um enredo bem profundo e reflexivo.
ResponderExcluirAmo blogs de leitura. O meu tbm é sobre livros que é meu hobby preferido. Parabéns e obrigada pela indicação.
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